sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Fraternidade


Um dia, os conselheiros lesaram o direito de um colega que não tem sobrenome. Como não era o de minha família, não me inquietei.


No dia seguinte, desrespeitaram o de outro colega, que não comia no prato deles. Como não estava com fome, não me incomodei.


No terceiro dia, injustiçaram minha melhor amiga. Como a amizade tem limites, também não protestei.


No quarto dia, cuspiram na minha cara, rasgaram o meu direito. Olhei para os lados e não havia mais ninguém para reclamar.

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Os versos acima são uma paráfrase aos de Martin Niemöller (1933).

No Conselho Superior, vários colegas foram desrespeitados nas promoções e remoções por merecimento [e, atenção, talvez, ainda queiram desrespeitar outros, nas remoções de Paço do Lumiar e Raposa], porque não tinham sobrenome, não eram de um grupo, não se ajustaram ao esquema.

Votar é sempre um ato de afirmação da cidadania. Merece boas reflexões, longe do querer dos candidatos e da influência de qualquer interesse individual. No momento, o voto secreto e silencioso é a melhor maneira de se fazer justiça a esses nossos colegas.

Com certeza, o Ministério Público merece um Conselho comprometido com o respeito à igualdade entre promotores. Um Conselho que não manipule o poder que recebe de todos, para fazer, a poucos, distinções que a lei não autoriza. O privilégio de uns, fere o direito de todos, inclusive o de quem, às vezes, irrefletidamente, sussurra “não foi comigo; não me meto nisso”.

Tanto faz nas ruas como entre os muros de uma instituição, a democracia se nutre de atitudes e distribui conseqüências. Porém, o mais importante em qualquer desses processos haverá de sempre ser a pessoa livre, consciente, pró-ativa, cidadã.
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