segunda-feira, 29 de março de 2010

Conclusos (1)

Ter um culpado aquieta o foco da indignação. Era o que cidadão procurava no balcão da secretaria judicial. Explicassem por que seu processo emperrara, nominassem de quem era a culpa. Não deu outra, a serventuária tascou nome e sobrenome. "Sim, a culpa é do seu advogado Fulano de Tal." Espantou-se. Sentiu o nojo que, muitas vezes, acompanha as relações entre clientes e causídicos. A má fama, quase folclórica, se confirmava, outra vez. "Desgraçado!", espremeu entre os dentes, lembrando que estivera com o dito cujo fazia duas semanas, e ele lhe afiançara que o processo há meses aguardava decisão. Quase se retirava, quando foi contido pela observação de alguém folheando papéis ao seu lado. Era um advogado que, para acudir aquele desiludido estranho, sem alterar a voz, pediu os autos à serventuária. Após as identificações necessárias, demora daqui, enrola dali, repetida a solicitação com energia, sem despistar a onda nervosa, ela não os pôde mostrar: estavam conclusos. Enfim, o culpado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Juarez, realmente o culpado sempre é o advogado, pois ele sempre é tirado para bode expiratório. Se o serventuário não acha o processo, é ele; se o juiz não despacha o processo, ele é culado por não ir ter "uma conversinha com o juiz"...

Raimundo Soriano Oliveira

Fábio Aurélio disse...


O advogado é quem primeiro trabalha no processo e é o primeiro culpado pela demora. Juiz, quando não despacha, é porque estava "assoberbado" de trabalho, e basta colocar essa palavra no processo. O advogado, coitado, se peder um diazinho sequer, se ferra.