O texto do juiz Francisco Soares Reis Júnior, aqui publicado sob o título “Premissas”, também, foi destaque no “Diário de um Juiz”, e no “Blog do Itevaldo”. Neste, a colega Promotora Cris fez o seguinte comentário:
“Sou promotora de justiça e sei bem do que o Dr. Francisco está falando. Em uma das comarcas que passei, a minha empregada era comadre do prefeito, aí imaginem os boatos que nasciam dessa relação. Se a minha empregada era comadre do prefeito, no mínimo eu também era do lado dele. Por falar em lado, meu vizinho era um dos maiores traficantes da cidade. Acabou preso e denunciado e a família dele me olhava com raiva.
Uma vez me aconteceu algo revoltante. Havia na cidade um motorista que eu contratava nas minhas viagens sempre acompanhada de outros profissionais que trabalhavam no município, enfermeiras e médicos do PSF, assistentes sociais, psicólogos, dentistas enfim (todos esses profissionais passavam mais ou menos dois dias na cidade).
Um dia esse motorista levou uma facada no peito por um dependente de drogas problemático que viva cometendo furtos e nesse dia subtraiu sua moto. Por um triz o motorista não morreu. Como o assaltante foi preso em flagrante, o inquérito foi concluído rapidamente, a denúncia foi de pronto oferecida e a condenação a oito anos de prisão por latrocínio tentado veio logo. Foi uma resposta rápida a um caso de grande repercussão. Pensei comigo “A justiça foi feita”.
Para minha surpresa, um dia cheguei ao fórum e o secretário judicial me entregou uma carta achada por ele junto à porta. Era uma carta anônima. A palavra mais bonita dirigida a mim foi de “fuleira”.Nessa carta alguém expressava a sua indignação pela condenação do assaltante alegando que a justiça funcionou rápido demais e que todos sabiam que eu tinha um caso com o motorista! Ainda bem que nas viagens que eu fazia sem pre estava acompanhada de mais alguém como citei acima, senão a acusação seria tomada como verdade por todos.
Veja a vulnerabilidade do promotor da cidade. Não pode se relacionar com ninguém sem ter sua imparcialidade questionada. Se trabalha com eficiência é por que foi rápido demais.
Quando meu marido foi comigo uma vez a esta cidade, o prédio do fórum estava em reforma e estava funcionando em uma casa alugada. Nesse dia faltou luz e tivemos que abrir a janela das salas que dava para a casa ao lado, que pertencia aos pais da minha manicure. À noite, a manicure me disse que todo mundo queria ir beber água em sua cozinha para saber quem era o marido da promotora. Como pode?
Nas cidades do interior, juízes e promotores são altamente vulneráveis e para manter sua imparcialidade tem que viver praticamente ilhados, sem fazer amizade com ninguém, a não ser que seja um relacionamento bem superficial.
Além disso, a precaridade dos serviços no interior como ressaltou Dr. Francisco é algo que faz com que a própria população recorra a São Luís. No interior, qualquer família que tenha um pouco de recursos financeiros manda os filhos estudar na capital, onde também procuram assistência médica.
Nosso dia a dia no interior não é fácil. Fácil é falar mal sem estar bem informado.
Antes que digam “já que as cidades do interior são tão ruins assim, por que não lutam para que melhorem?” Respondo, fazemos nossa parte, mas não é suficiente. A melhoria de vida em um município tem que partir das autoridades, que infelizmente estão deixando muito a desejar e da população que atualmente está altamente acomodada com bolsa família, seguro desemprego e auxílio natalidade.”
2 comentários:
Meu pai foi promotor nos anos 1980. Se hoje a precariedade das cidades domina a população, imagina naquela época!
Lembro que ele saía daqui de SL domingo a noite para chegar a comarca pela manhã do dia seguinte e só voltava sexta final da tarde. Via meu pai somente nos finais de semana. E nunca época em que promotor não ganhava a dinheirama que ganha hoje.
É difícil mas é a vida. Sei bem o que é isso.
Testemunhos como os dos Juiz e Promotora de Justiça são sempre muito úteis para advertir aqueles DESAVISADOS que prestam concurso público para ocupar cargos na Magistratura e no Ministério Público tendo em vista apenas o SUBSÍDIO previsto no edital, sem possuir qualquer noção dos deveres, das responsabilidades e sacrifícios que envolvem o exercício de FUNÇÃO PÚBLICA. Então, aos acadêmicos e concurseiros de plantão, importante ter em mente que a vida de Juiz e Promotor de Justiça é impregnada de sérias dificuldades que envolvem a prestação de SERVIÇO PÚBLICO, que deve ser visto como vocação e múnus público a ser desempenhado por aqueles que efetivamente desejam servir a sociedade na qual se inserem e não somente a si mesmos. Assim, parabéns ao Juiz e à Promotora que gentilmente nos deixam saber como serão sofridas as vidas daqueles que se arvoram no exercício das mencionadas CARREIRAS PÚBLICAS.
Claudia Santos
claudiac_slz@hotmail.com
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