sábado, 6 de março de 2010

Diversão

Embora lembrasse uma freira de meia-idade, era evangélica. O marido, o folclórico contador de causos do lugar, contraía o cenho se um dos ouvintes insinuasse que exagerara nas proporções do ocorrido. Era encarregada do ofício de notas, onde poucos casamentos gotejavam trocado insuficiente para quitar os encargos. Numa desobriga comandada pela juíza para qualificar eleitores nos povoados à beira do salgado, ela nos acompanhou com os pesados livros do registro civil. À noite, fincávamos os pés na areia, enredando conversa com as comédias e tragédias de cada dia. Invariavelmente, íamos arrebentar no cais dos queixumes quanto ao número de filhos e as dificuldades de sobrevivência para tanta gente. Na inflexão de algumas observações, deixávamos transpirar certa irritação com tantas jovens-meninas-mães entre 14 e 16 anos, até que, certa vez, sem se envolver com a exaltação derredor, em seu tom habitual de quem repartia segredos, ela nos indicou a causa de tanto efeito: “Mas, doutor, a diversão que existe pras moças do interior é namorar”. Simples.

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