Duas comarcas, com seis e quatro termos, nas fronteiras com o Pará. Numa, a juíza; noutra, a promotora. Em 1999, começamos a repartir o mesmo destino, naquelas lonjuras esquecidas. No tempo rigoroso das chuvas, eram até vinte e seis horas de viagem, intercalando trem, ônibus, lotação, boleia de dê-vinte ou caminhão. Em tempo menor, se era dispensável o pernoite, vezes escorávamos o sono com as mãos, sobre toscas mesas na agência de Maracaçumé. Carro quebrado, carro atolado, carro atrasado, nos últimos e inesquecíveis oitenta quilômetros de piçarra, com buracos, catabis ou lameirões. Mulheres longe de suas casas, de seus amores, de seus outros planos. Daqueles tempos, não lembro de mulheres desgostosas, senão cheias de coragem e gentileza, devotadas ao trabalho e ao sentimento de servir. Não tinham esse prazer doentio de reclamar do destino. Nem usavam o ácido do sofrimento para corroer as alegrias alheias. Ao contrário, sublimavam-no, construindo relações fraternas que por aqueles recantos são memoradas até hoje. Mulheres, ainda bem.
(Esse texto era para publicação ontem (08), Dia da Mulher, mas ficamos sem energia elétrica na comarca, por quase 24 h)
Um comentário:
Belo texto!
Desculpas pelo atraso do texto aceitas, rss
Abraços!
Marcia Rodrigues
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