domingo, 28 de março de 2010

Pra lua

Com maconha na caixa de sapatos foi levado à delegacia. A hospedagem seria demorada. Sua autodefesa não lhe era propícia. Guardara o produto em casa, para devolvê-lo a quem “não conhecia”, enquanto a clientela fazia rasto na porta, pondo em alerta a vigilância que, mandado em mãos, o capturara. A mãe a sofrer, o pai a gemer, a filhinha a ignorar a nova morada do pai. O tempo dos dias quentes e das noites fétidas não acelerava nunca. Só depois de cem dias, viu-se em audiência, e forçando sua própria inquietação, tentava demonstrar uma ingenuidade sem suporte, que mais o atirava no abraço da condenação. Mas, na penúltima hora, faltara o laudo definitivo da erva que jamais fora examinada. Com excesso de prazo, o protesto pela liberdade foi negado e a diligência requereu se mandasse fazer a perícia, desequilibrando a balança de Themis em favor do mais forte. O acusador não cumprira seus prazos, sem qualquer empecilho da defesa, de sorte que, em memoriais, ― levando essa reflexão ao gramado dos direitos e garantias ―, redimira-se, proclamando a absolvição, acatada por sua excelência que respondia pelo juízo. Sorte? Uns nascem pra lua.

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