Do outro lado, rente ao fórum, César vive dos sapatos de pouca moda. A gente simples do sertão se calça do trivial, esbanjando necessidades. Como em Dresden ou Calcutá, os bons negócios correm no início do mês, dissolvendo salários e aposentadorias em múltiplas prestações, irrigando de sobrevivência o frágil comércio de Mirador. Espera que honrem as parcelas. Como nem sempre, atravessa a rua, ao juizado. Precede-lhe um odor inconfundível de sarro, que a nicotina deitou-lhe cardinas até na alma. No balcão, força a intimidade para filar um cafezinho, ouve ironias que não alcança entender, amacia outro cigarro e sai para pitar, vagaroso, com a pauta de audiências amarrotando-se sob a axila. De sua repetida passagem brota sempre um burburinho. Não. Nunca vi. Nem eu. Não sei. Não conheço. Nem o nome. O tom não é de fofoca, pois é tudo verdade. Ninguém nunca a viu. Na rua, no comércio, no mercado, no banco, na escola, na igreja ou no hospital. E são três filhos. Deve tê-los parido em casa. Não se conhece alguém que já tenha visto a mulher do César. Sua reclusão é pura evidência. Amanhã ele volta; e o burburinho.
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