Disse que era dos orelhas longas e, talvez, ali, pelo Balsas, tivesse parentes orelhas curtas, da família Coelho. Aposentado, achou aberta a porta da política. Candidatou-se. Para forçar uns poucos aplausos, o experiente locutor se esmerava na apresentação pontuada: “E, agora... o nosso candidato... a su-plen-te-de-se-na-dor... é ele... o doutor... Coelho de Tal”. Se muito, umas duas palmas protocolares. Pouco ligava. Encantava-se com o palanque. Via-se importante, útil, não interessava mesmo o cargo. Manipulava uma dúzia de frases similares à dos orelhas longas, e saía de cena. Nem encontrava tom ou jeito para pedir votos. Mas foi num domingo, em final de tarde, na carroçaria de um caminhão, lá pras bandas do São Benedito do Rio Preto, instado a alongar o discurso para gastar tempo enquanto o povo ajuntava, que superou qualquer expectativa. Esgotado o típico repertório frasal, e depois de bisá-lo por inteiro, resolveu enveredar num relato autobiográfico laudatório, até que pelas palavras tantas, na falta de um desfecho, quase ofegante, arrematou, com ênfase: “E, por isso, sou o vice-cônsul do Maranhão, em Brasília, à disposição de todos vocês”. O locutor bem acentuou o título diplomático e pediu mais palmas. Os outros evitaram entreolhar-se para não atiçar nenhum riso inconveniente. Encerrado o comício, impossível não ir às boas risadas, sempre que estavam a distância respeitosa do vice-cônsul. Até hoje.
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