domingo, 17 de outubro de 2010

Ne me quitte pas

“Francês!”, ele dizia, tentando convencê-la que o estudasse ao tempo do mestrado. Vezes, fechava os olhos para ouvir palavras que ela bem pronunciava com esmero: Toulouse-Lautrec, Jean-Paul Sartre, Brigitte Bardot, Claude Monet, Jean-Luc Godard. Para seu outono, sonhava que as filhas o mimassem com leituras em francês, ― sua predileta ceia de sabores sonoros, ― que, estimulando o espírito, poderiam, quem sabe, conter a temida caduquice, ou confortá-lo numa eventual tragédia incapacitante. Seu plano preventivo: são, anunciar desejo que, talvez, não pudesse expressar depois. Sentou-se à porta do futuro. O que viria?

2 comentários:

Flávia disse...



Enquanto acarinha o pouco cabelo da fronte do velho pai, ela balbucia um francês tímido, desses que se confunde com o sibilar dos fortes ventos de agosto. A garganta mais pigarra do que propriamente diz, mas se divertem, como se estivessem numa trama "noir" ou dando novas versões de luz às músicas que embalavam o gosto em comum pela arte. Por um momento – entre cafés e pão no azeite – ela fecha os olhos e sorri, recordando o tempo em que, menina!, ele insistia para que falasse o "ne me quitte pas". Fez-se o tempo, e, agora, estão ali os dois, na varanda, saboreando, antes do francês, a língua dos fraternos, onde as palavras ressonam a sílaba tônica do amor.

Maria de Jesus disse...


Nestes momentos de lembranças, felicidades e saudades, me vejo em soluços.