quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Negócio

No Médio Mearim, sol a pino, no vigor de outubro, não se podia abandonar o chapéu, ainda mais com a urgência dos pequenos comícios do segundo turno, que revogavam qualquer privilégio quanto à escolha de horário ou local. Em frente ao Banco ainda se aglomeravam idosos vindos do interior para sacar a aposentadoria. Do outro lado, junto às tendas de alguns ambulantes de roupas, sapatos e farta bugiganga, onde se gastava algum dinheiro, fazia-se outra aglomeração, sob o fom-fom-fom arreliante dos carros de linha gritando por seus passageiros. Pelas bancas de comida, os fregueses justificavam a fama dos espetinhos de carne que, recendendo sobre as brasas dos fogareiros, defumavam o caminho com um cheiro gorduroso, quase irresistível. Na beira da calçada mais alta, com a pressa indispensável, primeiro, usaria a palavra um dos deputados mais bem votados na região, que ficara fora da lista por conta do quociente eleitoral. Baixo, queixo miúdo, cabelo arrumado com gel, camisa colada no corpo com a força do suor, olhos semicerrados pela claridade que caminhava para o meio-dia, iniciou a fala, e logo alguém à frente do povo estendeu-lhe um copo de alumínio com água fria para saciar-lhe a sede evidente. Como quem conta uma notícia sem interesse, não como um militante de boas refregas políticas, passou a agradecer a votação que recebera na cidade, e declinou até os nomes de alguns apoiadores locais, que meneavam a cabeça com discrição. Desprovido dos brilhos da oratória, seu palavreado chocho não empolgava, não cheirava e não fedia, contudo ia ajeitando seu lamento pelos votos que não haviam sido generosos em outras praças, razão de sua sentida infelicidade, até que, por esta senda, deixou escapulir a frase que o lançaria para a História: “Tenho uns amigos prefeitos, e fiz negócio com uns votos, mas não deu certo”. Relembrou seu passado vitorioso, suspirou pelo futuro, repetiu os agradecimentos do início e calou. Quem entendeu, fingiu que não. O orador seguinte, mais que depressa, buscou outro tom.

Um comentário:

Promotor de Justiça disse...

Amigo Juarez: A noticia abaixo procede?

Abraço

César - www.promotordejustica.blogspot.com

Deu em O Globo
Investigado, filho de Lobão recebe medalha do MP

O ex-senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA) passou de investigado a condecorado pelo Ministério Público do Maranhão.

Em dezembro, o ex-parlamentar, que é suplente na chapa do pai, Edison Lobão, reeleito senador, irá receber a Medalha do Mérito do Ministério Público, a mais alta honraria concedida pela instituição.

Em 2007, o MP investigou Lobão Filho por suposta sonegação fiscal. Ele seria sócio oculto de uma distribuidora de bebidas, a Itumar, que teria sonegado R$ 42 milhões em impostos durante oito anos.

O procurador da Itumar era Marco Antonio Pires da Costa, sócio de Lobão Filho em outra distribuidora, a Bemar. As duas empresas funcionavam no mesmo endereço e tinham como gestor o tio do ex-parlamentar, Neuton Barjona Lobão Filho. Quando se desligou da Bemar, o ex-senador passou suas cotas para a mãe de Costa, Maria Vicentina da Costa, e Maria Lúcia Martins, empregada do procurador.

A condecoração foi sugerida pela procuradora Themis Maria Pacheco de Carvalho e aprovada por 14 votos a um.