Naquele tempo, o que fosse de interesse, corria pelas dependências da justiça. Além dos processos criminais, querelas, registros e casamentos, boa parte do nem te conto, que movimentava as ruas da Ponte ao Brejo, nascia, morria ou ressurgia ali. O Professor não se entregava. Juiz de paz compenetrado, punha ao centro um surrado breviário, do qual pinçava admoestações bíblicas, poesias gongóricas e receitas de afeto, ― antes de colher os sins e os beijos dos nubentes ―, repetidas sem pujança, mas louvadas pelos padrinhos e convivas que, empertigados em suas roupas de ocasião, lotavam a sufocante sala de audiências do Fórum. Algumas lágrimas selavam as emoções, sempre. O estilo solene rendia bons comentários nas bodas dos mais letrados; os tansos só viam a demora do nhenhenhém. Naquela sexta-feira, não faria diferente, mesmo diante da pouca gente e do ar inquieto da escrivã. À sua frente, Luís e Luzia, ela mais jovem e ansiosa; ele, olhar longe, frio. O Professor fala de Deus e da costela de Adão, do amor que tudo suporta e supera, da beleza do lar, da alegria dos filhos, da força do sim pra toda a vida; se agita em versos, se emociona, se enleva em prece, mas não consegue trazer aquele olhar, e parte, assim, vencido, para os ritos finais: Luís, é de livre e espontânea vontade que... Não!, interrompe o noivo, e sai; ela, desaba em pranto. Na segunda, ainda era a notícia.
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