domingo, 26 de junho de 2011

Diabólico II

"É mesmo diabólica a corrupção do sufrágio.

Mas não é só. De igual modo diabólica é a tática do quanto pior, melhor. Tumultua-se o quanto puder e, depois, coloca-se à disposição para colocar ordem na casa. Semeia-se a discórdia e surge-se como o pregoeiro da concórdia. Enquanto há aqueles que estão realmente interessados em travar os debates que nos interessam, existem esses anatematizadores que se apresentam como os ungidos que podem nos dar segurança e paz.

Tem mais. Problemas que precisam ser discutidos com a propriedade dos argumentos não os são, porque, embora nos aflijam há tempos, são limpos do bolor para parecerem novos e, com isso, causarem a impressão de que basta alçar ao poder o responsável pela limpeza esperta e todos estaremos salvos. Assim, impedem que qualquer discussão relevante vá adiante, porquanto já se tem um culpado, e todo esforço dá-se apenas no sentido de puni-lo.

Outra muito recorrente é a satanização do adversário. Em toda discussão deveria haver respeito recíproco entre os oponentes. Entretanto, existem uns com o cacoete de avocar a moral para si. E não o fazem instintivamente, mas, sim, por método. Quem não comunga do seu credo passa a ser demonizado, aviltado na honra. Assim é mais fácil vencer um debate e impor suas idéias. Aniquilar reputação alheia é um método para esses salvadores, e que têm em GRAMSCI (o MAQUIAVEL da esquerda, chamemos assim) apoio intelectual. É prática de manual, mesmo.

É! O diabo é versátil."

Celso Coutinho, filho. Promotor de justiça de São Bento.

4 comentários:

juarez medeiros disse...


Ao comentarista Carlos Mota, cujo comentário deixamos de publicar, esclarecemos que a qualificação do autor, ao final da postagem, foi anotada pelo editor do blog, e não constava do texto original, encaminhado pelo autor.

Samaroni de Sousa Maia disse...


Caro Juarez,

Surgiu no Ministério Público maranhense uma figura que está acima do bem e do mal; alguém com imparcialidade e idoneidade para classificar as opiniões alheias, sem desclassificar seus autores; para colocar as discussões no nível que elas merecem, sem qualquer interesse pessoal; alguém que pode definir com precisão o que é impessoalidade, imoralidade etc.

Aliás, pelo pensamento puro exposto apenas por amor ao debate, o que dizem que está errado é fruto da mente diabólica dos “semeadores da discórdia” e o que se admite, genericamente e por hipótese, que possa estar errado, não é novo, mas apenas algo que é apresentado como novo.

Sinceramente, quero o melhor para o Ministério Público, não importa quem adote as medidas para melhorá-lo, inclusive já contribuí com a atual administração sugerindo medidas com esse propósito, embora nenhuma tenha sido ouvida. Contudo, não dá para ignorar que ultimamente somos alvo de chacota.

Estou pronto para aplaudir medidas de transparência e de impessoalidade. Por exemplo, a elaboração e publicação de uma escala de férias, a partir de critérios públicos e objetivos e que seu gozo se dê sem que isso represente um favor do Procurador-Geral de Justiça. Estou ansioso para aplaudir o exemplo de observância das normas editadas no âmbito do MP pelos próprios membros da Administração Superior.

Não estou atrás de uma fatia de poder no MP, como creio que essa não é a pretensão da imensa maioria das pessoas que expõem suas críticas em relação a atual administração. Até quando usaremos a desculpa de futuras eleições para justificar a existência dessas críticas? Ainda não chegou a hora de parar de falar, pensar e agir em função de eleições (passadas e futuras) e começar a trabalhar em função da sociedade e da Instituição?

Convido todos a refletir sobre o que está acontecendo no âmbito de nossa Instituição e avaliarem se os problemas que estão emergindo são fantasias criteriosamente criadas para “semear a discórdia” ou se são realidades que precisam ser enfrentadas de maneira objetiva, sem paixão. Alguns exemplos: por que o relacionamento entre a PGJ e a AMPEM chegou ao nível em que se encontra? Por que o relacionamento entre Procuradores de Justiça pode ser classificado com escandaloso? Por que um Promotor de Justiça não pode mais sequer programar as férias com sua família?

Essa é minha opinião!

Samaroni de Sousa Maia
Promotor de Justiça titular e em exercício na 1ª Promotoria de Justiça de São José de Ribamar

Celso Coutinho, filho disse...

Debater colocando palavras na boca dos outros, perdoem-me, mais uma vez, o prosaísmo, além de reprovável, demonstra insegurança e tibieza quanto à correção daquilo que se defende. Não, colega Samaroni. Não surgiu figura demiúrgica alguma. É o contrário. O que escrevo, exatamente, combate esse ser magnífico. Onde digo que identificar o que está errado é fruto da mente diabólica dos semeadores da discórdia? E que todo erro é novo? Quem é que, usualmente, experimenta essa vontade irresistível de definir o que é imoral e impessoal? O primeiro parágrafo do comentário do colega Samaroni foi fruto da inspiração de si mesmo.

Eu tenho, na verdade, elogiado a postura de alguns admiráveis membros do Ministério Público que apontam erros, sugerem soluções, sem o aviltamento da personalidade de quem está à frente. Eu mesmo já fiz críticas a administrações passadas e, também, a esta presente, notadamente quanto ao funcionamento das Promotorias de Justiça, no que tenho chamado de improvisação, mas nunca mais conseguimos levar adiante esse debate, porque, agora, só se discute quem presta e quem não presta.

Como já disse em outra oportunidade, gosto do debate. Só acho que deveríamos ser mais propositivos. Isto, sim, é novo. Fazer política, sobretudo a institucional, só com acusações é marca do atraso e do provincianismo. Apontar erros é um dever, com a cautela de que se falou acima. Mais importante, ainda, é expor o que pode ser feito concretamente para melhorar o Ministério Público, divergindo positivamente e, não, para nos dividir entre virtuosos e pecadores.

Se houver que se punir alguém, tem que ser punido. A impunidade é uma chaga que assola este país e que, somente, é superada pela escolha adrede de um diabo para se exorcizar. Aliás, esta última, em verdade, é uma das maiores parideiras de impunidade. Na Antiguidade, o sacerdote punha a mão na cabeça de um bode e nele depositava todos os pecados do povo. Depois largava o animal sozinho num ambiente selvagem, enquanto os fieis ficavam livres de todo pecado, prontos para voltarem a se refestelar.

Qual a necessidade de recorrer à ironia para me contestar? Que raio de sestro é esse que não permite a uns debaterem sem atingir a pessoa do debatedor, ainda que seja com um escárnio? Chega a dar preguiça. Por isso, vou tornar a dizer o que já disse, quantas vezes for preciso.

(Continua...)

Celso Coutinho, filho disse...

(...Continuação)

Emito opiniões porque tenho o direito de fazê-lo. Discordar do que digo é, também, um direito de quem assim entenda. A única exigência que se deve fazer é que a discordância refira-se ao conteúdo da opinião de que se discorda, sem partir para a tentativa miserável de fazer-se prevalecer insinuando uma moral superior. Quando debatemos buscando atingir a pessoa do debatedor que se tem à frente, no lugar de tentar demonstrar o erro da sua argumentação, adentra-se no campo da falácia e resvala-se para o pântano do totalitarismo.

Hitler, Mussolini, Pol Pot, Stálin e outros notórios tiranos tinham, em comum, o discurso sedutor de uma moral cuja porta somente eles e os seus (enquanto seus) tinham a chave. Estavam sempre pensando no bem do seu povo e todos estavam sempre a antolhar um inimigo voraz. Não passavam de reles assassinos. Não temos, hoje e, sobretudo, entre nós, nada sequer parecido com os tiranos citados. Porém o germe desse totalitarismo infame ainda se encontra por aí, muito sedutor e super disposto a ser nossa babá moral.

Deus me livre dos artífices da moral coletiva. Não debatem sem tentar alvejar a pessoa que ousa ter um pensamento diferente deles. Isso lhes é insuportável. Nada que fazem acaba bem. É só catástrofe, mas nunca são os culpados de nada porque prometem um paraíso que está sempre no futuro. Se não deu certo é porque ainda não se chegou nele.

Não tenho por que deixar de acreditar que, sinceramente, o colega Samaroni quer o melhor para o Ministério Público. Aliás, não tenho dúvida disso. Nossa grande divergência, creio, não seja quanto ao fundo dos problemas que afligem a instituição, mas ao modo de seu enfrentamento. E essa é, apenas, a minha opinião. Para dela discordar, não vejo razão para me dirigir ironias. Critiquem-me. Ouvirei com respeito e refletirei. Mas, se tentarem me zombar ou coisa pior, não deixo barato, não.

Celso Coutinho, filho.