sábado, 27 de agosto de 2011

Eu te amo (5)

No quarto à direita do corredor, sob lençóis com hálito fresco de andiroba, ela o aguardava, alinhavando temores e tremores. A velha casa de adobe sossegava cedo, expondo um incômodo silêncio dolente, desde aquele insólito casamento, escoltado pelas ordens familiares, ungido sob as asas do desgosto; simples, grave, lacrimoso. Na rua desnuda, margeando o rio, perto da igreja dos crentes, aos fundos, por ali, no mato suave dos canteiros, tinha acontecido o quase coito; e, descoberto tal segredo, por língua anônima, ele não soube fugir à severa voz paterna. Case! Casou. Mas relutava em virar marido. E não saberia sê-lo, se, aos dezesseis, nem namorara direito ainda, salvante uns gracejos lançados à roda no festejo passado. Aquele quarto ao fim do corredor o atraía tanto quanto uma cela, e não lhe importava que ela estivesse lá, despida, disposta e quase virgem, em seus mais de vinte anos. Birrava que birrava. Ninguém, nada o convencia, mesmo sob as pesadas súplicas maternas. Caçula de oito filhos, no fim dos cueiros, ainda não desgrudara de adormecer na cama entre os pais. E, agora isso!, enxotavam-no para responsabilidades. Vá! Não ia. Toda noite, a teima comia horas, afiando o gume das tensões familiares, e encerrava, ele choramingando nalgum canto afastado. Dias, noites, tudo passa. Enfim, vencido, copulou. Os anos trouxeram filhos e alguma cumplicidade. Mas ele ainda busca a namorada que não teve. Ela espera o marido completo que não chegou.

2 comentários:

Haroldo Paiva de Brito disse...


Juarez, boa tarde!

Os textos "EU TE AMO", trazem, com uma singeleza em seus conteúdos bem construídos, lembranças de outas épocas, outros lugares, como se ali, em algum tempo, tivessemos vivido.

Bonitos, leves e com a capacidade de nos fazer viajar.....sem sairmos do lugar!

Parabéns!

José Márcio Maia Alves disse...

Texto sensível, semi-lúgubre e reflexivo nas breves linhas. Perfeito!