segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eu te amo (7)

Na queda, o vestido levantou, deixando-a ao léu. A mulher agonizava na área piçarrada do outro lado da estrada, abaixo da creche em que deixara a netinha na primeira hora ainda fria daquela manhã, avistando a casa onde vivera tanto, até que ele lhe entregasse a morte com um tiro na testa. Seu pavor e desespero não o demoveram; tombou, sem palavra. O homem pôs a arma na cintura, olhou para trás, cuspiu, afastou-se para a motocicleta. Em instantes, por trás do campo de bola, no quintal, enviesou a arma pelo ouvido e puxou o gatilho, mas a morte o regurgitou. A bala vinte e dois alojou-se nos refolhos do crânio, danificando-lhe o equilíbrio e a fala. Na cela, apoia-se nas paredes, custa com as palavras, e o som do estampido não lhe abandona a cabeça. Fazia poucos meses do divórcio. Deixava umas queixas anotadas como seus motivos: rescaldos da convivência. Matou-a. Era Deus.

Nenhum comentário: