domingo, 5 de fevereiro de 2012

Rumo

A CORRUPÇÃO E O MINISTÉRIO PÚBLICO DO MARANHÃO
Por Samaroni de Sousa Maia, promotor de justiça em São José de Ribamar


A revista semanal Época (ed. 715, de 30/01/12) ostentou em sua capa a matéria “ANATOMIA DA CORRUPÇÃO”, onde “lista as modalidades de corrupção mais comuns no Brasil” e propôs “ideias para diminuir a roubalheira” (p. 56/68).

Como membro do MP estadual chamou minha especial atenção a sugestão de “aumentar o poder e a especialização dos órgãos fiscalizadores”, terceira ideia para “diminuir a corrupção”. Nesse item, o repórter expôs a opinião de Weber Abramo, da Transparência Brasil, para quem “O Brasil está bem aparelhado na esfera federal”. “Falta ampliar para Estados e municípios, onde os controles são muito fracos”.

Em seguida o repórter afirma o seguinte: “Responsáveis por fiscalizar prefeitos e governadores, os Tribunais de Contas dos Estados são controlados politicamente. Nas esferas estadual e municipal, não há órgãos como a CGU. Com isso, os Ministérios Públicos estaduais acabam sendo os únicos encarregados do trabalho”.

Em novembro de 2009 postei um artigo no blog “O Parquet”, do colega Juarez, intitulado “O que falta?”, no qual afirmei que nós não tínhamos uma política institucional de defesa do patrimônio público, destacando a existência de iniciativas isoladas de alguns colegas nessa esfera de atribuição.

A única consequência desse artigo foi a instauração contra mim de procedimento disciplinar porque uma Promotora de Justiça, um Promotor Corregedor e a Corregedora-Geral do MP entenderam que eu não estava exercendo minha liberdade de expressão, mas, ao contrário, havia violado meu dever funcional de zelar pelo respeito aos membros da Instituição (art. 103, II, LC nº 13/91). A sindicância respectiva tramitou entre abril de 2010 e outubro de 2011. Isso mesmo, dezoito meses respondendo a um procedimento disciplinar por haver exposto meu ponto de vista.

Nesse período, além de não ter havido qualquer medida para melhorar o panorama de atuação nessa área, o CAOP-ProAd, órgão que deveria ser catalisador de uma atuação sistematizada e coordenada no combate a corrupção em nosso Estado, deixou de existir de fato, limitando-se a figurar na página eletrônica do MPMA.

Então, como afirmou em recente entrevista o Ministro do Dias Toffoli, do STF, “o MP, da maneira como se organizou, com cada membro sendo uma instituição, não se mostrou apto a dar efetividade à Constituição”, ou seja, funcionando cada Promotor de Justiça como uma verdadeira ilha, sem apoio e sem coordenação, muito pouco podemos fazer.

O curioso é que o combate à corrupção sempre ocupa lugar de destaque nos discursos dos candidatos a dirigir nossa Instituição, porém, passadas as eleições e as nomeações, ao menos no MP do Maranhão, o tema é tratado quase que com desprezo.

A moção elogiosa do TCE dirigida ao colega Joaquim Júnior por sua destacada atuação na defesa do patrimônio público é um ponto positivo, que retrata sua determinação no desempenho dessa atribuição e, por outro lado, revela mais uma vez que o Ministério Público maranhense depende exclusivamente das iniciativas individuais de seus membros, ao menos nessa área.

Assim, espero que externar essa opinião não provoque unicamente medida de cunho intimidatório contra minha pessoa, mas uma reflexão sobre a pouca importância que estamos dando como Instituição ao combate à malversação dos recursos públicos, sobretudo em um Estado onde os índices de pobreza são alarmantes, onde cada tostão desviado faz diferença aos mais necessitados, sedentos de emprego, saúde, educação etc.

Por último, espero que os futuros e os já atuais candidatos a PGJ apresentem reais propostas de como pretendem fazer para enfrentar esse tema em sua eventual administração.


3 comentários:

Rodrigo Ronaldo Martins Rebelo da Silva disse...

Prezado Samaroni,

Confesso que o texto até estava indo, mas quando chegou na parte do Toffoli...

Francamente, promotor de justiça se valendo de uma citação de um cidadão que nunca passou num concurso público, não tem um título acadêmico, brincadeira, ainda mais pra nos criticar...

Fosse um Celso de Mello, aprovado em primeiro lugar no concurso do MP-SP, até começaria a manifestar simpatia.

Biografia, conta muito meu caro, e o MIn. Dias Toffolli vai precisar de uns 10 anos de STF...na minha opinião...

O Judiciário não julga grande parte de nossas ações em tema de improbidade e outros direitos difusos, coletivos, etc, qualquer estagiário do MP sabe disso. O dia que o STF e o Judiciário estiver com a pauta "limpa", em relação as ações propostas pelo MP, milhares delas pela implementação de direitos fundamentais de primeira, segunda, terceira e quarta geração, aí começarei a aceitar a crítica.

No mais, não vejo a liberdade de expressão como um valor absoluto, tanto que a própria Constituição veda o anonimato, prevê o direito à indenização ao dano moral, o qual, pode ser coletivo e ter como vítima a própria instituição. Abstratamente, isso é possível sim. O caso concreto, não tenho a menor condição de me pronunciar...pois não o conheço.

Esse texto, só pode ser interpretado como um crítica aberta a atual gestão da Administração Superior.

Talvez na próxima eleição o colega se candidate. Seria mais produtivo.

No mais, até eu que um simples novato, sei que o colega não tem conhecimento nem de fato, nem de direito, para falar da atuação dos demais promotores que tratam da questão em suas promotorias de justiça em todo o estado. Portanto, o texto se revela vazio, e manifestamente político-eleitoral, na minha humilde opinião.

Mesmo discordando, mas com respeito e serenidade, deixo meu abraço ao Juarez e ao colega Samaroni, subscritor.

Rodrigo Ronaldo Martins Rebelo da Silva
Promotor de Justiça

Samaroni Maia disse...


Colega Rodrigo,

Em primeiro lugar, agradeço pela sua manifestação. O debate é sempre bom.

Quanto a citação do que disse o Ministro Dias Toffoli, realmente você tem razão. É um crime citar um cidadão que não passou em concurso público. Quem é ele para criticar o Ministério Público? Aliás, esclareço que na entrevista o Ministro se referia ao STF e abordou a organização do MP dentro do contexto de sua resposta. Não creio que o propósito do ministro tenha sido criticar a nossa irretocável Instituição. Entretanto, antes de construir uma robusta biografia ele não deve se atrever a emitir qualquer comentário sobre o Ministério Público!

Quanto ao Judiciário, mais uma vez você tem razão. Vamos esperar que eles limpem suas pautas para aceitarmos suas críticas. Mas, que críticas?!

Também não acho que a liberdade de expressão tenha “um valor absoluto”. Mais uma vez você acertou. Parabéns!

O texto realmente é uma crítica aberta, não velada, a Administração superior do MP. Afinal a quem cabe definir e/ou possibilitar a atuação dos Centros de Apoio Operacional? Não é disso que fala o texto? Em que momento eu disse que conheço plenamente o trabalho dos colegas nessa área? Em que isso desqualifica minhas afirmações? Você realmente acha que há uma atuação orgânica do MP contra a corrupção? Eu não acho! Onde? Como isso vem acontecendo? Talvez o “novato” tenha informações que eu ignore. Divida comigo Rodrigo.

Então, pelo que eu entendi, quer dizer que, se é uma crítica da Administração, deve ser interpretada como uma manifestação político-eleitoral, ou seja, dentro do usual jogo político, eu exponho o que entendo ser uma falha de nossa atuação com o propósito de me promover politicamente, visando obter apoio e votos para uma futura eleição, mais explicitamente para a próxima eleição de PGJ.

Se é isso mesmo que você pensa, gostaria de saber o seguinte: qual é então o papel que você está desempenhando? Qual sua função nesse jogo político-eleitoral?

Acho que você tem todo direito de criticar minha opinião, não me ofendo com discordâncias. Não sou dono da verdade, tampouco tenho resposta para tudo. Sou um democrata, meu caro! Somente construiremos um MP forte com diálogo e com críticas, inclusive. Então que tal enfocar o mérito e não apenas desqualificar minha atitude.

Seja bem-vindo ao debate.

Rodrigo Ronaldo Martins Rebelo da Silva disse...

Prezado Samaroni,

Vamos por partes.

Confesso que estava bem de mau humor quando comentei seu post, pq essa história da possibilidade de remoção da remoção me pegou de surpresa...e uma surpresa ruim...para mim...

Veja Samaroni, implicitamente, senti no texto uma crítica a TODOS os promotores que atuam na área do patrimônio público, e não sei, também trabalho com isso aqui em Viana, as dores são tantas...lutas inglórias...enfim...achei que não precisávamos do fogo amigo...

O meu papel? Não sei...o de alguém que já leu muito nesse 1 ano de MPMA nos blogs...e que já consegue ter um pouco de senso crítico.

Que manifestou esse senso crítico, num dia de mau humor, mas acredita naquilo que escreveu, e que, de uma maneira geral, tem muito mais a aprender, do que a ensinar.

Mais do que isso meu caro, só a história irá dizer...

Um abraço.

Rodrigo