sexta-feira, 9 de março de 2012

Rito sumário


― Quem trouxe?

― O Moura.

Pegou a sacola, mandou que o assessor se ausentasse, passou a chave. Retirou dela uma caixa de sapatos e rasgou o papel que a encobria. Deveria conter um revólver e cápsulas deflagradas; e continha, uma delas, até, chapiscada de sangue. Havia mais que o esperado. Um envelope com o timbre do tribunal guardava duas fotografias do morto; melhor, do executado. Dois furos na cabeça e o culhão extirpado. Muito sangue. Fitando a obra encomendada, transpirava ódio do outro e nojo de si. Não segurou o vômito. Vingara-se, em nome da sobrinha violada. “A justiça foi feita, desembargador”, ouviu ao telefone. Irrompendo em soluços, resumiu-se num balbucio: “Obrigado, governador”. Sob os olhos, a notícia de um preso morto ao pular da viatura.


Um comentário:

Doca disse...

Lembra o caso do Valnei Magalhães.