Até agora, os que
morrem não retornam, mesmo porque todos merecem o descanso eterno.
Mas estamos nos habituando em demasia às perdas. Se a indesejada tem
direito a um quinhão diário, não deveria violar a preferência da
antiguidade. Sim, primeiro os primeiros. Não “os últimos
serão....”, não. Perdas próximas, perdas de notáveis – dos
quais guardamos cúmplice ilusão de proximidade – e essas
incontáveis perdas anônimas, às centenas, aos milhares e mais,
colhidas pela miséria, pelas guerras, pelo trânsito, pelas
catástrofes, pelos homicidas, latrocidas, pesticidas. As mortes
evitáveis deveriam levantar-nos do cômodo. No Serengeti, quando
felinos se lançam à caça de zebras, gnus, búfalos ou gazelas, os
que ficam fora do raio de ação, ou dele se afastam, lançam
discreto olhar sobre a morte alheia e continuam a pastar, com sua
vida que segue. Mesmo sendo animais, poderíamos ser diferentes: menos indiferentes.
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