quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cabeças

Imagem original recohida aqui

Digamos que ali bem próximo da Praça Tahrir, epicentro do terremoto que apeou Hosni, o faraó, estava Marco Polo, o viajante, contabilizando o acumulado em diárias, ou melhor, reclamando percebê-las a menor que Fatih, enquanto dois turistas afegãos, no empório decadente da esquina, bisbilhotavam a internet numa pesquisa repugnante, comparando as decapitações cometidas nas terras conquistadas pelo profeta Maomé e as perpetradas na terra do presidente José. Ao entrar, indagaram se o viajante as conhecia. Sim, disse, secamente, sem atinar se a pergunta queria as diárias, as decapitações ou as terras; tanto que foi logo se enroscando numa discussão com uns estrábicos partidários de Fatih, a justificarem até os périplos e a bufunfa por Cartagena, Salamanca e onde mais ela o desejasse. A refrega arrepiou quando puseram o eunuco Ehrário no epicentro do dissídio. Ao temor de que os gritos contra Hosni pudessem levá-la de roldão, recatou-se, lentamente. Não sem antes murmurar mais um “tudo posso naquele...”, às costas de Marco Polo, que passara sua atenção ao festim diabólico daqueles turistas em frenesi com as decapitações (se não tiver estômago, não veja aqui, nem aqui). Corpos sem cabeças, deste lado do Atlântico, encheram de indignação um dos mais enérgicos discursos na capital da terra brasilis. Com os olhos marejados e a voz espessa, o presidente reclamou, com propriedade: “Já não sei quem governa 'minha terra, minha paixão'. Inimigo meu!, certamente; pois essas decapitações na cidade em que nasci, retalham-me a alma.” Entoou um lamento pungente, sincero: “Quem me dera houvesse sido amigo e aliado de presidentes e governadores, meu torrão jamais viveria essa nota da barbárie”. E fechou-se em lágrimas. Depois que se afastaram os turistas, o viajante pôs os olhos num mapa, até repousar o dedo sobre a terra de José. Curiosidade. O veneziano preferiu seguir a turba, na Tahrir.

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