O fogo consome e destrói, limpa e purifica, prejudica e mata. Depende do propósito de quem lhe tange as lavaredas. Pode servir a vários senhores. Não é de hoje que se utilizam chamas para expressar ― justas ou injustas ― revoltas, protestos, rebeliões, piquetes etc.
Não sabemos quantos carros foram incendiados na França, em 2005, ou quantos hectares a ganância imobiliária incinerou na Grécia, em 2006, mas arderam meses na fornalha do noticiário internacional. A UNE foi incendiada em 1964. “Burned” (Queimada, 1969), com Marlon Brando, foi um dos filmes que ajudaram a alumiar nosso espírito de liberdade. As torres gêmeas crepitaram a arrogância do novo império. Sem fogueira, Joana d'Arc seria outra. Para “convencer” seus soldados, na costa do México, Hernan Cortés ateou fogo aos próprios navios. Roma se consumiu em chamas, em 64 d. C. A prefeitura de São Luís, em 1986; a de Guimarães, em 2000. A de Coroados-SP, em 23/08/08. A de São Mateus, em 21/12/08. A de Queimada Nova-PI, em 27/12/08. E a de Santa Luzia, em 01/01/09. Outras tantas, torraram Brasil afora.
O fogo é político. Por vezes político-partidário; vezes, sem partido. Seria insano, porém, medir todos pelo termômetro da mesma avezada reprovação. Sempre há motivos para incêndios. Só faltam estopins. Revoltar-se contra os incendiários, sem entender o que inflama ou alimenta seus archotes, reduz a inteligência a cinzas.
Não há razão para aplaudir incêndios; menos, ainda, para ignorar-lhes as razões e as prevenções. Por causa de cortes, juízes, promotores, procuradores, desembargadores e ministros corruptos, venais ou adeptos do parcialismo, ― que rarissimamente são punidos ―, a maioria dos bons é vista com insossa desconfiança.
Contemplar com robusta indiferença, ou lamentar? Só isso? Importa agir para não sucumbirmos ao fogaréu.
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