Na queda,
o vestido levantou, deixando-a ao léu. A mulher agonizava na área
piçarrada do outro lado da estrada, abaixo da creche em que deixara
a netinha na primeira hora ainda fria daquela manhã, avistando a
casa onde vivera tanto, até que ele lhe entregasse a morte com um
tiro na testa. Seu pavor e desespero não o demoveram; tombou, sem
palavra. O homem pôs a arma na cintura, olhou para trás, cuspiu,
afastou-se para a motocicleta. Em instantes, por trás do campo de
bola, no quintal, enviesou a arma pelo ouvido e puxou o gatilho, mas
a morte o regurgitou. A bala vinte e dois alojou-se nos refolhos do
crânio, danificando-lhe o equilíbrio e a fala. Na cela, apoia-se
nas paredes, custa com as palavras, e o som do estampido não lhe
abandona a cabeça. Fazia poucos meses do divórcio. Deixava umas
queixas anotadas como seus motivos: rescaldos da convivência.
Matou-a. Era Deus.
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