Por Celso Coutinho, filho. – titular da Promotoria de Justiça da Comarca de São Bento-MA.
"Endosso a contrariedade
em relação à inclassificável decisão do Tribunal Regional
Eleitoral do Estado do Maranhão, escorada no Tribunal Superior
Eleitoral, em não remunerar os promotores eleitorais auxiliares no
pleito de 2012, a despeito dessa remuneração estar garantida aos
juízes. Têm o meu apoio todos os colegas que disseram não a essa
indignidade. O brado da colega Camila Gaspar pode estar deflagrando,
positivamente, um novo momento do Ministério Público.
Coloco-me, desde já, à
disposição para a luta, que não pode deixar de ser lutada com
veemência e, sobretudo, inteligência. Garantias, prerrogativas e
direitos não costumam ser retirados de um só golpe. É, portanto,
preciso reagir de forma enérgica com habilidade e sagacidade, sob
pena de nos amesquinharmos não somente no processo eleitoral, mas no
todo institucional.
Ainda assim, ao meu
sentir o problema é bem maior, constituindo o enviesado discrímen
do TRE/MA apenas a ponta do rabo que ficou para fora desse mostrengo
doido para nos devorar. Essa decisão do TRE/MA é, afinal, o
coroamento da humilhação a que o Ministério Público vem sendo
submetido ao longo de todo o processo eleitoral, não só nessa fase
de votação das eleições que se avizinham. O que se repete a cada
pleito.
Creio, então, que a
nossa insurgência não deva se resumir tanto, ficando centrada
apenas na questão remuneratória dos promotores eleitorais
auxiliares, mas, também, deva alcançar a situação estrutural do
Ministério Público Eleitoral.
Não existem
Promotorias Eleitorais no Estado do Maranhão. Existem, na verdade,
esforçados e combatentes promotores eleitorais. Sim, porque ao
promotor não é dado um clipe sequer para o desempenho de seu
trabalho na área eleitoral. Enquanto o juiz eleitoral atua rodeado
de servidores, munidos dos mais modernos equipamentos de informática
e outros, além de uma estrutura física que inclui, em alguns casos,
até Fórum específico da Justiça Eleitoral, o promotor eleitoral
assemelha-se a um pedinte no exercício de seu múnus. Nada de errado
em relação ao juiz eleitoral, ao contrário. No entanto, o problema
é que a situação do promotor eleitoral é, escandalosamente,
inversa.
Escrevo este texto na
manhã de sábado (06/10/2012), véspera do dia da votação. Vou ter
que dar uma pausa no que estou escrevendo para atender ao telefone da
Promotoria, pois não tem servidor com função eleitoral. [...]
Retornei. Era uma denúncia de compra de votos. E agora? O que faço?
EU vou telefonar à Polícia para averiguar. EU vou atrás do
telefone da Polícia. EU vou fazer a ligação. EU vou fazer um
Ofício à Polícia para formalizar o pedido de averiguação. EU
mesmo vou levar o Ofício à Polícia. Que mais EU vou fazer?
Antes disso tinha feito
uma representação ao Juiz eleitoral solicitando a notificação dos
Comandos da Polícia Militar nos quatro Municípios que integram a
38ª Zona Eleitoral para uma atuação preventiva, logo que encerrado
o prazo das 22:00 horas de hoje (06/10/2012), para coibir a
propaganda eleitoral e a compra de votos durante a madrugada que se
segue e o dia da votação. Preparada a representação, EU peguei o
meu carro e fui até ao Fórum Eleitoral protocolar a representação,
onde tentei falar com o Juiz.
A representação foi
protocolada. EU aguardei em frente ao balcão a efetivação desse
protocolo, peguei a segunda via e, ao retornar à “Promotoria”,
EU, mesmo, a arquivei na pasta própria. Porém, falar com o Juiz não
me foi possível, pois o Juiz em companhia de sua colega Juíza, que
também trabalhará nessa Zona Eleitoral durante essas eleições,
devidamente remunerada, estavam em pleno voo de helicóptero, fazendo
um reconhecimento de área. E ao Promotor, nem um velocípede é
posto à sua disposição. Nenhuma reparação aos Juízes. A eles
tem que ser dada toda a estrutura para o exercício do seu múnus.
Mas, ao membro do Ministério Público, nem um apontador de lápis?
Ah, sim! O telefone, o
computador em que fiz a representação, a impressora, a folha de
papel em que foi impressa, a pasta de arquivo, tudo é fornecido pela
Procuradoria Geral de Justiça, nada é do Ministério Público
Eleitoral, que, simplesmente, toma emprestado para nunca devolver.
Aliás, aqui cabe uma indagação, não só moral, mas, também,
jurídica, sobre a regularidade de o Ministério Público do Estado
do Maranhão levar nas costas o Ministério Público Eleitoral, que é
federal.
Não estou a dizer que
as Promotorias de Justiça estão às mil maravilhas. Longe disso.
Mais uma vez comparando com o Poder Judiciário, nesse caso com a
Justiça Comum, a situação é de muita precariedade. Contudo, nesse
caso, percebe-se, ao longo dos anos, a Administração Superior do
Ministério Público tentando melhorar essa situação. Hoje, por
exemplo, não estou mais em uma sala de fórum, embora ainda tenham
colegas que estejam, o que, creio, encontra-se em vias de acabar.
Mesmo assim, é preciso mais, muito mais. No caso das Promotorias
Eleitorais, inversamente, o que se notou, até aqui, é uma visível
acomodação de todos, da qual não me excluo. Não basta apenas se
sentir incomodado. É necessário exteriorizar esse sentimento e a
recusa da colega Camila Gaspar seja, talvez, o marco histórico dessa
irresignação.
Amanhã, domingo
(07/10/2012), dia da votação, um dos servidores da Promotoria de
Justiça, colocou-se à disposição e virá prestar-me auxílio nas
funções do eleitoral. Nenhuma obrigação tem de vir. É,
unicamente, compromisso pessoal. A situação dos servidores é ainda
mais penosa que a do promotor eleitoral. Não dá para se lhes exigir
esse voluntarismo. Estamos no exercício de uma profissão. Devemos,
portanto, ser profissionais.
Sou recorrente em dizer
que, enquanto não assumirmos, definitivamente, a nossa missão
constitucional, a estrutura que temos dá para ir levando. Já que
improvisamos em nossas atribuições, improvisamos também nas
condições de trabalho.
Tenho absoluta certeza
que o depoimento que faço não é meu apenas, mas, seguramente, pode
ser dado por todos os promotores eleitorais deste Estado. Trabalhamos
na base da vontade, da superação, do compromisso pessoal e do
improviso. Contudo, ainda há de aparecer um CNMP para nos cobrar
porque deixamos de fazer isso ou aquilo. Enquanto assim for, seremos
tratados daí para pior. Não há o que não possa piorar. Mas o
pior, mesmo, é que se não reagirmos, nós merecemos tudo isso."
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