Morri garoto, em 17 de
julho de 1971, às margens do Rio Corda, no redemoinho de suas águas.
Meu irmão atirou-se e venceu a correnteza a braçadas, alcançando a
croa, em que outros garotos se entretinham. De lá, animavam-me aos
gritos. Pareceu-me fácil. Decidi. A adrenalina me punha o coração
entre os dentes. Desci da barranca, afastando o mato, até mais perto
do leito. Ensaiei o pulo, flexionando as pernas e agitando os braços,
uma, duas, três vezes. Conferi. Imaginei o impacto, a pele da água
me envolvendo, rompendo-a a braçadas. Imaginei e não fiz. Fizesse,
teria morrido, certamente. Ainda hoje, morreria. Nasci pedra. Jamais
aprendi a nadar. Mas aquela ousadia do desejado, do ensaiado, do
quase feito, causa-me calafrios nas lembranças. O anjo do quase
salvou-me. Alguém mais o conhece?
Um comentário:
Juarez, espero desse anjo do quase, que nos idos de 1971 te prendeu firme às margens seguras do Rio Corda através do medo salvador, possa pedir por ti ao anjo da inspiração.
Belo texto!
Parabéns.
Alessandro Brandão.
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