À
esquerda, é a antepenúltima casa. Como outras, de taipa, chão
batido e telhas. Portas e janelas fechadas. Quem arrodear pelo quintal, levantando a taramela da porta, encontrará oito crianças: um
bebê de meses em uma rede na morrinha do mijo, a menor escanchada na cintura de
outra maiorzinha, e a de dez, cozinhando um arroz. Elas desviam o
olhar, e pouco respondem. A mãe está para a roça, com o
mais velho. Dois morreram. Grávida pela décima segunda vez, ainda
não se decidiu pela laqueadura que todos recomendam, pois traz sempre Deus no meio de suas explicações. Tem parido em casa, sozinha, como a
ignorância lhe recomenda. Diz-se precavida, porque deixa sem uso, durante um mês,
embaixo do colchão, para matar os micróbios, a peixeira com a qual ela mesma vai cortar o cordão umbilical. Tinha um homem, mas
bebia e a espancava. A casa não está suja, há só um forte cheiro
de fome, e um celular sobre a mesa.
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