Não
queira saber. É prudente não ler tudo. Há coisas que se contam por
verdadeiras, outras nem tanto. Tanto faz. Não leia. Ele cuspiu sem
respeito, fazendo ver que a visita era incômoda, e indagou que
utilidade lhe teria aquela mulher sem uma perna: pois não autorizava
a cirurgia. Ele também fedia, o casebre fedia, a ferida pútrida,
acima do tornozelo dela, atraía moscas e suas larvas. Dia sim, dia
não, era envolta em uma nuvem de farinha, especialidade de um nunca
visto macumbeiro de Codó, que trocava rezas por cobres da
previdência. Sob a vistosa cegueira do espírito, enquanto o câncer
e a sujeira a consumiam, ela protestava sentir melhoras. Vez por
outra, a aragem levantava aquele odor nauseabundo, que percorria a
vizinhança colhendo protestos. Cosendo muitos esforços, a
assistente fez conduzi-la ao hospital, debalde. Negou-se ao
tratamento. A clausura da ignorância esposava a avidez da morte,
que a requestava todos os dias, elevando a podridão e o asco que a
todos repelia. Então, findou: sem velório, sem lágrimas, sem
súplicas, órfã das últimas caridades. Não demorou, e na rua
segredam que ele já esbanja a pensão, meada com o macumbeiro.
É para o que serve uma mulher sem vida.
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