domingo, 12 de outubro de 2008

Eleições 1: bode expiatório

Em muitas pequenas cidades a eleição é plebiscitária. A ou B, vermelhos ou azuis, eles ou nós. Um vai ganhar, outro vai perder. Não há risco de empate. Quem ganha, comemora. Quem perde, procura culpados, e quase sempre despreza o espelho, porque prefere deixar os seus ao sabor das paixões, à cata de um bode expiatório.


No tempo das urnas de lona, que não deixaram saudades, a lenta apuração permitia ao candidato morrer aos poucos, voto a voto, até que se esgotassem seus redutos de esperança. Agora, a urna eletrônica tem hora certa para matar o candidato: um pouco depois das 17h. Vitima-o como num infarto fulminante, lançando seu séquito à dor, à revolta, ante a tragédia não esperada.


A falta de maturidade não lhe permite dizer “não deu, vamos para a próxima”. Raros candidatos admitem que perderam. Acham melhor alardear que foram “roubados”. Precisam manter um convincente papel de vítima, para não frustrar os que acreditavam em sua capacidade superior, em sua liderança.


Por óbvio, o resultado de qualquer eleição sempre deixa uma legião de tristes, angustiados, revoltados, insatisfeitos. E esse número pode ser até a maioria do povo, sem que o pleito tenha sido “injusto”. Por exemplo, numa cidade com dois candidatos em que a diferença entre estes e aqueles é de poucas unidades ou de poucas dezenas de votos, o número de alegres é quase igual ao de tristes, o de felizes é quase o de revoltados. Noutra, com três candidatos, o vencedor pode ter 3 mil votos e os dois perdedores juntos quase 6 mil, onde, sem dúvida, os insatisfeitos serão larga maioria.


Estimular e canalizar a onda emocional desses insatisfeitos está se tornando um perigo mais grave a cada dia. O principal bode expiatório dos derrotados vem sendo a justiça eleitoral. Para isso, subalternos lançam boatos, plantam inverdades, espalham o dito e o não dito, fomentam a intranquilidade, açulando o povo a “fazer justiça”, para invadir isso ou quebrar aquilo. Numa ou noutra ocasião, sem qualquer pudor, avançam sobre a honra e ou ameaçam avançar sobre a integridade física de magistrados e promotores. Tudo sem que o líder derrotado faça um mínimo esforço para chamar os seus aos caminhos da razão e do direito.


Alguns políticos, partidos e coligações preferem abandonar as vias judiciais, na esperança de que o passionalismo dos seus seguidores gere alguma tragédia que vingue a imensa dor da derrota.


O Tribunal Regional Eleitoral deverá levar em conta o enfrentamento dessa questão nos preparativos das próximas eleições municipais, em 2012, antes que algum infortúnio cruento inaugure outras estatísticas.


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