O outro ainda não sabe
que vai matar em menos de três minutos. Por trás do barracão da
fazenda, perseguidos pela concorrida gritaria das cigarras, os
últimos raios se escondem na folhagem do horizonte, para espiar o vestir da noite. Comem arroz, feijão e carne de caldo gordurosa,
e se conhecem pouco, bem menos que o suficiente para cumprimentos.
Estão ali há uns três dias, assim os outros braçais que se
aboletam nos bancos rentes às compridas mesas de tábuas nuas, com
sinais de banho no cabelo, na roupa ou na mistura das fragrâncias,
outros com a pele ainda quente pela tarde na capina, e que só vão à água depois que o corpo bem esfriar a agitação do trabalho,
para não ter uma congestão, um resfriado. Do prato à boca, da boca
ao prato, vistas das cabeceiras, a alternância das colheradas parece
reger uma orquestra de poucas vozes, alguns arrotos e gargalhadas.
Está quase na hora da morte; do minuto, para ser exato, pois o
vizinho ao que vai matar descuida-se e ao se levantar do banco toca
sua coxa no cotovelo dele, fazendo cair a comida que ascendia à
boca. Não exibe um completo desculpar-se, apenas um fraco aceno, e
não valora o inconveniente riso dos outros. Uns poucos passos, pois
nem chega a estender o prato e a colher sobre a bancada em frente ao
lavatório, recebe um cutucão nas costas, que lhe injeta nos olhos o
aviso apressado da morte. Enquanto o outro retira a lâmina do talho,
em dois pulos põe-se em fuga no terreiro, em vão, pois nem pode
perceber por qual lado adentra o golpe que lhe decepa a garganta e
deita na terra um líquido quente e espesso.
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