“Mãe?”
‒
chamava, de repente. Minutos depois, repetia-o, como súplica:
“Mãe?”. Abria os olhos, que nada mais podiam distinguir, e por
um instante fugaz fitava sem rumo a luz esmaecida do quarto 230.
Entrecortava a agitada respiração agônica e, de novo: “Mãe?” ‒
balbuciava, inconsciente. Selava os olhos e entregava um pouco mais
da vida nos braços da santa morte, até que avançada a agonia de horas, nada mais pôde dizer. Com as dores untadas pela fé, os lábios em
eterna prece, a mãe, septuagenária, rente ao leito, incansável em
tudo, naquele combate de três anos contra um câncer de mama,
relutava em entregar a filha para a eternidade, afligindo-se por não
ter alcançado do Criador a cura. Aquele suspiroso “Mãe?” não
era só para a despedida, mas para a (re)encontrada. Havia outra
que a acolhia, divina, na crença que a animava. Antes, despedira-se
de todos, com afago, humor e fé. Tinha ciência do inevitável e, sem
medo, ia ao seu encontro. Agora, a mente me carrega inúmeras vezes ao
mesmo quarto, ajuntando as lágrimas soltas da saudade, para vê-la
mais uma vez suspirar “Mãe?”. Ouço o silêncio; que o mais é mistério.
(Minha
irmã Maria do Socorro faleceu segunda-feira (03/10), com 54 anos.
Aos que a confortaram e nos confortaram, gratidão.)
2 comentários:
Tio,
Sou Neta do Sr. Arimatéia e filha de Teresa Cristina, desejo a voce forca e que DEUS guarde ela dentro do seu coracao. Ana Cristina.
Caro colega, somente hoje, 13/10/2011, acessei novamente seu blog e li, com pesar, essa notícia sobre o falecimento de sua irmã.
Esta nossa vida é só uma ilusão e a morte é só uma passagem para um novo e verdadeiro caminho.
Rogo a Deus que ilumine sua Irmã nesta nova fase de vida, e a todos os espíritos de luz que amparem e aquietem o seu coração e de toda sua família.
Um grande abraço!
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