sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Opções

De Celso Coutinho, filho. Promotor de Justiça.

A opção do confronto é hipnotizante e, não raro, nos impede de avaliar os problemas em sua real e total dimensão. Vende-nos a solução fácil embalada no invólucro do espetáculo de modo a empanar aquilo que realmente deve ser enfrentado. Procura fazer os seus contempladores não mais pensarem por si, tentando os produtores do espetáculo apoderarem-se dessa tarefa.

A literatura, pela pena de Guy Debord, em sua obra “A Sociedade do Espetáculo”, encarregou-se de explicar esse fenômeno de um quase assenhoreamento da consciência alheia, para o qual podemos e devemos ficar precavidos a fim de não sermos capturados sem nem mesmo nos dar conta disso. Escreveu o literato francês: “A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta da sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. É por isso que o espectador não se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está por toda a parte”.

Por maior que seja a vontade da atual Diretoria da AMPEM em resolver os problemas que aponta, tem-se, claramente, que o caminho escolhido é equivocado e o sentido maior não é esse, mas, sim, tentar convencer aqueles que assistem ao espetáculo que não há o que se aproveite do que aí está e que, se outra fosse a composição da Administração Superior, esses problemas não existiriam. E por “outra”, entenda-se: não é qualquer outra, mas aquela que a atual Diretoria da AMPEM quer que seja. Enquanto isso, em sua própria horta, a entidade não consegue fazer brotar a transparência que tanto cobra, afinal não é esse o objetivo, estando bastante ocupada em desconstruir a qualquer custo quem tenha como adversário.

Problemas existem, existiram e, sempre, vão existir. A solução, mais que nas pessoas, consideradas individualmente, está no modo como se lançam ao enfrentamento desses problemas. O que não significa dizer que tudo é problema e que nada há de bom fora do “eu” que a atual Diretoria da AMPEM incorpora.

Todas as Administrações Superiores do Ministério Público, até aqui, são merecedoras de elogios e de críticas, o que, em outras palavras, podemos dizer: acertaram e erraram. Entre os acertos, grande parte contou com a colaboração direta da AMPEM, que nunca foi subjugada, mas tinha consciência que o seu papel político para o alcance de soluções e conquistas não é o do sectarismo que se vê hoje.

É de fundamental importância compreender isso para não reincidirmos no grande logro a que nos conduz essa política sectária, que é o de que basta alçarmos ao poder alguém que desfrute da simpatia da atual Diretoria da AMPEM que os problemas serão resolvidos. Por óbvio que não assumem isto, mas é o que se tem refletido na sequência dos fatos.

O episódio ocorrido na sexta-feira, 18/11/2011, por ocasião da solenidade de posse dos novos membros do Conselho Superior do Ministério Público, para o biênio 2011-2013, é lamentável sob todos os aspectos e por qualquer ângulo que se veja. Não há quem possa ali, entre os protagonistas do espetáculo, se vangloriar de ser o certo e querer apontar o errado.

Equidistantes e estonteados ficaram a instituição do Ministério Público e todos aqueles que não aguentam mais isso. No entanto, a AMPEM simplificou tudo e, com publicação de nota, inclusive, não tardou em encontrar, entre os presentes na cerimônia, um escolhido para carregar o madeiro cravejado de todas as culpas. Isso não ajuda a resolver os nossos problemas. Ao contrário, só os tem potencializado. Deveria, sim, buscar os protagonistas e fazê-los sentar à mesma mesa, explicitando as divergências e encontrando um modo de superação dos problemas. Contudo o sectarismo não deixa que assim proceda, deixando a todos os seus associados sob pesada artilharia.

Cada qual pode pensar o que quiser, mas, a mim, afigura-se de um simplismo demasiado a escolha de um culpado divisando apenas o episódio em si. Não me escapa à percepção que o infeliz incidente está inserido em um processo de aniquilamento do Ministério Público que há muito se desenrola e já em estágio bem adiantado.

Vendo esse acontecimento como mais um inserido nesse processo de autofagia que se falou acima, se quisermos, realmente, escolher um culpado para o que vem ocorrendo, fica às claras que esse é a política do confronto estabelecida no seio do Ministério Público do Estado do Maranhão, encampada por alguns, a AMPEM, inclusive, em detrimento dos verdadeiros interesses da classe ministerial. Respeito quem a entenda como necessária, mas, para mim, a política do confronto, entabulada pelo sectarismo, nada associa, só desagrega; nada incrementa, só mutila; não traz unidade, só separação.

Nenhum comentário: