O frio que lambe as madrugadas pelo sertão conforta o sono e promove aconchegos. Nas casas de taipa ou palha há sempre menos cômodos para acomodar. Pelo vão das portas ausentes, as redes muitas se tocam. Pouco se sabe do começo. Nem ela o diz. Há suspeitas e falatório muito, pois já os viram com certas atitudes no caminho da roça, na pesca da piaba, na lavação de roupa no rio, despertando o olho e a boca do mundo. Essa vox populi tudo sabe, tudo fala, tudo julga. Apesar dos rumores, negam-se o incômodo que aos outros causam por ela só ter quatorze, ele, vinte a mais, e nove filhos. Vige a crônica da pobreza crônica. Seu corpo denuncia a prenhez, e roupas apertadas tentam desmentir. De quem? Observem. Pela hora do frio, ele está mais próximo da filha que da esposa. Esta teme abrir os olhos para não escapar o grito da alma, para não ver o que vê. "Cala-te!"
Um comentário:
É o fino da narrativa. Denuncia com sutileza. Já estou esperando "eu te amo 4".
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