Era uma vez uma mulher... duas mulheres.... talvez, 129 mulheres. A data era 8 de março de 1857; mas bem podia ser de 1914 ou (quem sabe?) de 1917. O país era os Estados Unidos – ou será Alemanha? Ou a Rússia?
Tantas datas, tantos lugares e tanta história revelam o caráter, no mínimo, instigante da seqüência de fatos que permeiam a trajetória das pesquisas em busca da verdadeira origem da oficialização da “data de 8 de março” como o Dia Internacional da Mulher. É instigante, e curiosa, talvez porque mescla fatos ocorridos nos Estados Unidos (Nova Iorque e Chicago), na Alemanha e na Rússia: mescla, também, greves e revoluções; reivindicações e conquistas. E nos apresenta datas que variam do dia 3 de maio (comemorado em Chicago em 1908), ao dia 28 de fevereiro (1909, em Nova Iorque) ou 19 de março (celebrado pelas alemãs e suecas em 1911).
A mais divulgada referência histórica dessa oficialização, na verdade, é a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhague, Dinamarca, em 1910, da qual emanou a sugestão de que o mundo seguisse o exemplo das mulheres socialistas americanas, que inauguraram um feminismo heróico de luta por igualdade dos sexos. Na ocasião dessa conferência, foi proposta a resolução de “instaurar oficialmente o dia internacional das mulheres”. Contudo, apesar de os relatos mais recentes trazerem sempre a referência ao dia 8 de março, não há qualquer alusão específica a essa data na resolução de Copenhague.
É bem verdade que o referido exemplo americano – de intensa participação das mulheres trabalhadoras – ganhou força com o evento de um massacre “novaiorquino” extremamente cruel, datado de 8 de março de 1857. Nesta data, um trágico evento vitimou 129 tecelãs. Era uma vez uma mulher... duas mulheres.... talvez, 129 mulheres : dentro da fábrica em Nova Iorque onde trabalhavam, essas mulheres foram mortas porque organizaram uma greve por melhores condições de trabalho e contra a jornada de doze horas. Conta-se que, ao serem reprimidas pela polícia, as trabalhadoras refugiaram-se dentro da fábrica. Naquele momento, de forma brutal e vil, os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo, matando-as todas carbonizadas.
Fato brutal! Mas há quem considere como mito a correlação única e direta da tragédia das operárias americanas com a data do Dia Internacional da Mulher, simplesmente por não haver documento oficial que estabeleça essa relação.
Alguns estudiosos encontram uma correlação “mais confiável” em outros fatos históricos. Descrevem, por exemplo, como uma relação mais palpável, a data da participação ativa de operárias russas, em greve geral, que culminou com o início da revolução russa de 1917. Segundo relato de Trotski (História da Revolução Russa), o dia 8 de março era o dia internacional das mulheres – o dia em que operárias russas saíram às ruas para reivindicar o fim da fome, da guerra e do czarismo. “Não se imaginava que este ‘dia das mulheres' inaugurasse a revolução”.
Com essas duas, ou com outras tantas histórias, materializam-se, em face da diversidade de interpretações, nossas interrogações sobre a verdadeira origem do Dia “8 de março” Internacional da Mulher. Contudo, é impossível não reconhecer o vínculo entre as datas das tragédias e vitórias relatadas com a escolha da data hoje oficializada. A aceitação desse vínculo está registrada em textos, livros e palestras da atualidade. E, com certeza, essa aceitação não decorre exclusivamente de documentos oficiais; decorre principalmente de um registro imaterial – a memória de quem reconhece e jamais esquece as recorrentes e seculares reivindicações femininas por justiça e igualdade social.
E, assim, voltamos ao começo: Era uma vez uma mulher... duas mulheres.... talvez, 129 mulheres. A data era 8 de março de 1857; mas bem podia ser de 1914 ou (quem sabe?) de 1917 . E voltamos a esse começo mesmo para concluir que o fato de o dia internacional da mulher estar, ou não, oficialmente ligado a esse ou àquele momento histórico não é o foco mais significativo da reflexão que ora se apresenta. Afinal, o dia 8 de março universalizou-se – isso é fato . E universalizou-se pela similaridade dos eventos mundiais relacionados à luta das mulheres.
Hoje, sem sombra de dúvidas, a data é mais que um simples dia de comemoração ou de lembranças. É, na verdade, uma inegável oportunidade para o mergulho consciente nas mais profundas reflexões sobre a situação da mulher: sobre seu presente concreto, seus sonhos, seu futuro real. É dia para pensar, repensar e organizar as mudanças em benefício da mulher e, conseqüentemente, de toda a sociedade. Os outros 364 dias do ano são, certamente, para realizá-las.
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Um comentário:
Quando entrei no Ministério Público do Maranhão sempre tive uma certeza: meu compromisso primeiro é com a sociedade; a Instituição vem em segundo lugar.
Hoje, sinto-me mais convencido disso do que nunca.
Solidarizo-me, no dia de hoje, com as mulheres do Maranhão que não sentiram no MP o apoio necessário à Lei Maria da Penha: a mais moderna e avançada lei de combate à violência que este País já viu. Avançada porque permite a prevenção da agressão; e não só da mulher, mas também da mãe, da avó, da irmã... aos olhos aflitos dos traumatizados e futuros também violentos filhos, netos, irmãos... Moderna porque não nos perpetua, enquanto operadores do direito, nos mesmos bombeiros de sempre, que só agem quando o incêndio já consumiu a paz! Com a Lei Maria da Penha é (deveria ser) possível evitar ou amenizar violências e traumas em mulheres e crianças, essas últimas espectadoras privilegiadas das pancadas e estupros sofridos pelas primeiras no íntimo do lar.
Mas, apesar de tudo o que significa essa nova concepção de legislação, o MP do Maranhão preferiu, e depois de muito se reclamar, achar o antigo "jeitinho" brasileiro como forma de "quebra galho", incluindo a "matéria" nas atribuições de "outras" Promotorias!
A desculpa é orçamentária.
Ora, mas se temos pouco dinheiro, será que realmente precisamos de 31 Procuradorias? E de tantas Promotorias em São Luís, se vários colegas estão em cargos administrativos, afastados de suas funções?
O problema, no meu sentir, não é só orçamentário, mas sim de falta de compromisso com a sociedade.
A administração preferiu manter as "gordurinhas", e dar às mulheres e seus filhos, netos etc, o "jeitinho brasileiro" de presente para ser "comemorado" no dia de hoje!!
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