"A partir do projeto de lei, encaminhado pelo Executivo Federal ao Congresso Nacional, propondo a abolição de qualquer tipo de violência a crianças e adolescentes, veio à luz a importante discussão quanto à necessidade ou não de se bater em crianças, como forma de educá-las ou de reprimir comportamentos indesejados.
Muito já se disse a respeito do tema, tanto com argumentos favoráveis, como com argumentos contrários. Entretanto, salvo melhor entendimento, a questão ainda não foi tratada sob sua verdadeira e necessária perspectiva.
Pessoas que se posicionam favoravelmente, normalmente argumentam que bater em criança (palmadas, cintadas, chineladas etc.) não causa qualquer tipo de prejuízo psicológico e que não distancia os filhos de seus pais, de modo que filhos que apanham continuam amando seus pais, muitas vezes até mais intensamente do que aqueles que nunca apanharam.
Outras, ao revés, que se postam contrários à medida (bater em crianças) normalmente argumentam que a surra deixa traumas irreversíveis e pode torná-las pessoas violentas quando adultas.
A mim me parece que esses argumentos e outros semelhantes são relevantes e que são dignos de debates, todavia não são argumentos centrais ou fundamentais do tema, mesmo porque existirão, sim, crianças que, mesmo apanhando de seus pais, ainda que submetidas a surras homéricas, as chamadas “surras conversadas”, continuarão amando-os profundamente e ser-lhe-ão gratas para o resto da vida. Assim como existirão crianças que nunca sofreram um só beliscão e que desenvolvem comportamentos extremamente agressivos e armazenarão traumas incuráveis para o resto da vida.
O ponto fundamental parecer ser outro: bater em crianças é um ato necessário como instrumento educativo ou de correção de condutas reprováveis ou de prevenção a comportamentos indesejáveis?
A pergunta ganha relevo quando se pergunta por que os pais batem em seus filhos. Na quase totalidade das vezes os pais batem nos filhos porque estão com raiva, ou por vingança, porque não possuem instrumentos (como o bom argumento, ou a produtiva conversa) de repreensão, porque estão passando por problemas de relacionamento, psicológico, financeiro etc. etc. Quanto maior a surra, maior o desequilíbrio emocional. Então, conclui-se, com certa facilidade, que quase sempre os filhos apanham por desequilíbrio emocional dos pais e não propriamente porque a surra (palmadas, cintadas, chineladas, “cascudos”, etc.) está sendo utilizada racionalmente como um instrumento educativo.
Se a agressão não é necessária, por que bater?
Fica apenas o registro de que, muito mais eficaz do que bater (que parece não ter eficácia nenhuma), é educar com limites. A criança que é acostumada a limites desde a tenra idade, não precisa apanhar para comportar-se adequadamente e certamente será uma criança feliz e um adulto consciente de seus deveres, sem traumas decorrentes deste tipo de ação e sem motivo para não amar profundamente e ser eternamente grato aos seus pais pela educação que recebeu."
Delvan Tavares – Juiz da Vara da Infância e da Juventude de Imperatriz-MA.
3 comentários:
O artigo, muito bem escritoo, faz-se necessário, objetivando aumentar o debate acerca da questão ora comentada. No entanto, afirmar que o pai que surra é desequilibrado emocionalmente, seja por qual razão colocada pelo articulista, entendemos como falsa a premissa, posto que tudo possui uma razão de ser. A princípio, pensamos que uma conversa resolve melhor, depois um castitgo, e após, dependendo dos fatos, umas palmadas conscientes (e não tortura física), pode ser bom ao aprendizado da criança, isso desde cedo. Mas tal questão ainda aceita bons debates, e Delvan, sem dúvida nenhuma, possui cabedal suficiente para iniciá-lo. Parabéns Delvan, pela ótima idéia e pelos argumentos.
Concordo com o comentário do Promotor Frank Teles. Não vejo como regra, que pais que às vezes dão uma palmada em seus filhos sejam desequilibrados. Na maioria das vezes, penso eu, a palmada pode até ter fundo "emocional", na maioria das vezes causada pela atitude da criança.
Apanhei quando criança e nunca fiquei traumatizada. Sempre respeitei e respeito meus pais até hoje, e os amo. Nunca me envolvi com drogas ou qualquer tipo de crime e graças a Deus tenho respeito por todos em minha volta e as palmadas contribuiram para isso. E tenho certeza que muitos adultos hoje, que apanharam no passado não têm algum trauma.
Penso que o Estado não pode querer regular uma relação familiar. É certo que o dispositivo do art. 226da CF (norma programática) prevê que a família tem proteção do Estado. Mas não se pode confundir proteção com invasão. Como os pais não podem educar seus filhos do jeito que lhes convêm??não podem por certo, torturar, mal tratar). Para a tortura, maus-tratos já há punição legal. Inclusive a nova lei 12.403 admitie a decretação da preventiva se o crime envolver criança. Na própria Constituição, desta feita no artigo 227, há a previsão do dever da família de assegurar à criança, dentre outras, a educação, a dignidade, o respeito e inclusive colocá-la a salvo da violência... Data venia, um tapa ou puxão de orelha dado pelos pais na tentativa de educar, de impedir que a criança aja de modo desrespeitoso com alguém (com as pessoas que tomam conta delas, v.g), não é violência, não é ser maltratado.
Respeito os que aplaudem e concordam que há a necessidade de se criar uma lei para punir os pais que batem em filhos, mas eu não concordo.
Me impressiono ao andar por shopping, restaurantes, lanchonetes e ver ínúmeras crianças de no máximo 4 anos fazendo verdadeiros escândalos e esperneando porque o pai ou a mãe não comprou um brinquedo ou porque não tomou sorvete. Me impressiono com a quantidade de crianças mal educadas as quais apenas uma conversa de nada adianta. E um puxão de orelha não faz mal.
Longe de mim fazer apologia aos maus-tratos, à violência contra criança ou contra qualquer que seja. Não é isso que defendo. Apenas penso que em vez pensar em fazer lei a fim de punir quem bate no filho, dever-se-ia pensar em como tratar as milhares de crianças e adolescentes que andam drogadas em festas, nas ruas mesmo à revelia dos pais. E como lidar com esses pais que veem, apesar de terem feito tudo, seus filhos morrerem na criminalidade, nas dorgas.
MA RA VI LHO SO o comentário da Maria Emília. Concordo com tudo que foi por ela colocado. Hoje as ppróprias crianças e adolescentes, quando querem suas vontades caprichosas satisfeitas, ameaçam os adultos com "SEUS DIREITOS"
Os pais estão sendo dominados pelas crianças, achando que isso é benéfico. E em decorrência disso convivemos atualmente com crianças, adolescentes e jovens adultos com personalidade, princípios e caráter muito fracos. Não conseguem passar pelas negativas da vida sem se rebelar. E, sem limites, as rebeldias se expressam de forma prejudicial aos que convivem com eles.
Cada criança, adolescente, como ser humano, pessoa, tem uma individualidade única. Jamais o limite desta será igual ao daquela. O que para uma criança se resolve com uma conversa firme, para a outra criança só se resolve com uma boa surra de cinto.
A dor não existe só para sofrimento. Ela existe para aprendizado. Não existe somente a surra decorrente de desequilíbrio emocional. Existe a surra de imposição de hierarquia e limites.
Nos animais, sempre existe a imposição de hierarquia do "ALFA" E a ordem nos bandos e matilhas se mantém. Se os filhos não respeitam os pais A QUEM VÃO RESPEITAR ???
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