As voltas que o mundo
deveria dar: sonho, premonição ou apenas um forte desejo?
Por Mário Márcio de Almeida Sousa, juiz de direito.
Naquele tempo, tudo ia
mal, muito mal; muito pior que agora. Honestidade, respeito,
solidariedade e retidão de caráter, entre outros, não eram apenas
predicados, como dominar vários idiomas, conhecer doutrinas as mais
variadas e saber o que dizer, onde dizer e para quem dizer. Poucos
conheciam e menos ainda exercitavam tais virtudes – e outras que
tais. Restara pouco de bom daquilo que houvera. “Cada um por si”
era a lei vigorante. Até a esperança havia soçobrado. Tudo parecia
perdido.
Até que, de um súbito,
roubadores dos templos e dos cofres dos povos, salteadores dos
alimentos e das esperanças e dos futuros alheios, sem esperar, viram
os seus morrerem à míngua, sem nada, tal como outros tantos que um
dia deles careceram – e nada receberam. Alguns que, assim como os
seus, noutras eras, eram lançados em naves pra buscar socorro em
galáxias distantes, sentiram a dor da impotência; filhos, netos e
outros entes queridos sucumbiram à mais absoluta falta de amparo.
Ironicamente, o mais básico dos direitos foi negado aos poderosos: a
chance de viver e progredir. Subvertendo a cronologia, pais começaram
a enterrar seus filhos, seus netos... O desespero coletivo era total.
Todo aquele povo estava prestes a sucumbir.
Quando, então, tudo
parecia perdido, eis que, entre as trevas e a desesperança, o
destino mais uma vez surpreendera a humanidade. Do alto de sua
insignificância, um homem probo e honesto – e que por isso mesmo
seguia à margem da sociedade estabelecida – questionou: - Por que
não recorremos ao velho da montanha? Tratava-se de um velho homem,
exilado, ainda jovem, num cume de cristal, de onde ninguém mais o
ouvia. Para uns, tratava-se de alguém que não merecia crédito;
nunca havia feito nada pelos líderes que então agonizavam e por
isso mesmo havia sido banido para uma montanha aparentemente
inatingível.
De logo alguém
redarguiu: - Ora, trata-se apenas de um homem senil, cuja vida mesma
o empurrou para o ostracismo. Que terá ele a nos oferecer?
Aquele homem probo e
honesto então disse: - Lembremo-nos que, um dia, num distante dia, a
ele e aos seus nós mesmos confiamos decidir todas as questões que
ora nos afligem e que talvez nos conduzirão ao fim. A desordem hoje
instalada é fruto menos da falta de regras que da sua inobservância.
Uns não fazem o que dizem; outros escamoteiam o que fazem. O direito
há de ser feito por homens verdadeiramente íntegros e aplicado por
outros igualmente corretos. Do contrário, haveremos de pagar, todos,
pelos erros e omissões de uns poucos.
Renovou-se, então, a
esperança. Até quando, somente Deus sabia.
Post scriptum: este
texto é uma obra de ficção; uma obra de alguém que, tal como
quase todo garoto, um dia sonhou em ser um super-herói; alguém que
lutou muito e ainda luta pra não se render à crença de que alguns
poucos podem, impunemente, condenar um povo, um país, uma nação,
enfim, à pobreza, ao atraso, ao caos.
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