PARALISADO
Por José Osmar Alves,
promotor de justiça em São Luís (joseosmaralves@hotmail.com)
Enxergar a inépcia da
administração do MP nos últimos anos é tarefa muito simples, que
não demanda qualquer esforço cognitivo, sendo bastante olhar um
único exemplo dos vários à disposição: a trágica história do
prédio das promotorias da capital.
Depois de quatro anos
de deterioração da estrutura exposta do edifício, foi anunciada a
retomada do trabalho de recuperação estrutural, a ser concluído em
mais de 500 dias, prazo que por si só incomoda: eis que nos parece
injustificado tamanho lapso temporal para obra visivelmente pequena
para os padrões do empreiteiro contratado. Isto nos traz ao espírito
a desconfiança de que o construtor impôs o seu prazo, talvez por
ser o único habilitado tecnicamente para a tarefa, como a dizer que
faria o serviço do Ministério Público em suas horas vagas, bem ao
modo daquele pedreiro conhecido que aceita reformar nosso banheiro,
mas condiciona fazê-lo nos finais de semana, pois está ocupado em
serviço mais importante. Nenhuma consideração tem o velho pedreiro
pelo nosso merecido sossego de final de semana, tal como
aparentemente se fez em relação aos 84 promotores de justiça que
há quatro anos se acham aboletados num vão de supermercado.
E para completar, a
notícia, publicada no blog do Itevaldo de ontem (13/03), de que a 4ª
Vara da Fazenda Pública de São Luís concedeu liminar paralisando
as obras, atendendo pedido da primeira construtora contratada para
fazer o reforço estrutural do prédio, ainda nos idos de 2007, cujo
proprietário assegura que não lhe pagamos o combinado pelo que fez
do contrato e também pelo que teria feito fora do contrato. O juiz
concedeu a tutela provisória, por certo há fumaça de bom direito.
Você que lê este post
pode avaliar a gravidade dessas acusações? O construtor acusa o
Ministério Público de lhe dar calote, e mais, de lhe haver mandado
fazer obras fora daquelas que estavam contratadas! E isto sem
qualquer aditivo! Eu mesmo testemunhei o proprietário da construtora
fazer essas acusações à Procuradoria Geral de Justiça perante um
membro do Conselho Nacional do Ministério Público e dezenas de
colegas, presentes os dois procuradores gerais de justiça sob cujas
administrações os fatos se deram. Envergonho-me de fazer parte de
um Ministério Público dirigido por gente tão incompetente.
Está aberto o processo
sucessório. Ao que se sabe, alguns candidatos já estão a postos,
embora apenas um tenha publicado carta até agora. A se confirmarem
os nomes especulados coisa melhor do que aquilo que temos não nos
espera no próximo biênio.
Como promotor de
justiça há 21 anos, sei que pesa também sobre mim a
responsabilidade pelo desastre em curso, especialmente se em maio não
apresentarmos aos eleitores uma alternativa viável à atual
incapacidade administrativa reinante.
2 comentários:
Caro Juarez,
Sei que a maioria dos colegas promotores leem O Parquet. Mas parece que este privilegiado espaço só serve mesmo ao primeiro propósito (divulgar idéias), sem, contudo, provocar consequências, pois os debates são raros. Confesso que este silêncio todo em relação ao que escrevo me desanima...
Caro Osmar,
Não se desanime. Neste caso, quem cala, consente.
Estou fazendo contagem regressiva, 10, 9, 8...
Abraço,
Samaroni Maia
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