domingo, 13 de outubro de 2013

Milagres


Ela não mais o quer. Não sabe se ainda o ama. Vive compenetrada no medo do que ele diz e das coisas que ela ouve o mundo dizer; por isso teme a morte e que ele a mate, mesmo. Descreve as fortes investidas do medo, pondo as mãos sobre as faces, imitando o Grito de Munch, – que não conheceu, nem terá tempo e motivos para isso. Só não quer morrer baleada, assada, retalhada, como lhe anuncia com galhofa o neto infame, – “filho” que cria há 16 anos, desde o parto. Chora seu desassossego, esconde os olhos entre os dedos macilentos, balança a cabeça, treme o corpo, perde-se em prantos, suspira, implora entre gemidos. Não! Não! Não! Não! Não quero morrer; tirem ele de minha casa. Ele abandonou os estudos e se inscreveu na graduação da clássica rebeldia sem causa: álcool, fumo, farras, xingamentos, ameaças, e já se abastece de outras drogas. Ao que tudo indica, ela deve esperar a morte anunciada ou iniciar amizade com algum desses santos que atendam milagres.