quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Eternas

Do colega Marco Antonio Santos Amorim

O ano era 1981, Líbano. Na guerra, as famílias perdiam seus filhos para o front. Essa conseqüência nefasta, contudo, não abalaria Brahim Trindade Fiquene, que imbuído da coragem que norteou toda a sua vida, reuniu esposa e filhos e rumou para o Brasil. Aqui, sem dominar a língua e sem conhecer pessoas, iniciou uma trajetória de sucesso, levando ao conhecimento dos maranhenses o inigualável sabor da culinária árabe. Seu jeito simples e acolhedor transformaram-no um anfitrião de primeira grandeza. Impossível não se sentir em casa. Tristeza? Somente quando não conseguia reunir toda a família aos domingos. Maior alegria? Reuni-la sempre. Antes da última cirurgia esse foi o seu pedido. Com os punhos cerrados pediu união, talvez profetizando o que lhe aconteceria. Na partida as nuvens verteram lágrimas; na inumação o dia ensolarado refletia a beleza que foi sua trajetória. Fico me perguntando por que os bons morrem cedo. Chego à conclusão de que os não tão bons também se vão prematuramente, porém, somente aqueles outros fazem falta. Tenho tentado definir este homem numa palavra, e somente agora me dei conta de que essa tarefa é absolutamente impossível. Brahim não cabe em conceitos prontos. De tudo sabia um pouco, nenhum assunto lhe era alheio. Maranhense de nascença adotou o Líbano como sua pátria. “O falso árabe mais original que existe”, dizia-se dele. O desejo de manter a família unida o fez retornar. Contador de histórias, sabia como ensinar através de parábolas. Adorava aprender uma piada nova e se gostasse, repassava-a. Ria-se quando perdia uma partida de gamão para este aluno, que não dominava a técnica do jogo. Hoje tenho a convicção que apenas queria me agradar. Leal, jamais abandonava um amigo. Com tantas qualidades, teve o mérito de possuir uma esposa maravilhosa e filhos dignos que ilustram bem o seu legado. Conhecendo-o como conheci, tenho certeza de que já intercede insistentemente junto ao Criador para que olhe pelos seus. Agradeço por tê-lo conhecido e desfrutado do seu carinho. Boas recordações inundam minha memória. Saudades Eternas.

Morre Brahim Trindade Fiquene (13.02.2010) - Precursor da culinária árabe no Maranhão - Dono do Restaurante Beiruth.

Marco Antonio Santos Amorim (Genro)

2 comentários:

Fernando Aragao disse...

Meu amigo Marco;
Nossos sinceros sentimentos a você, D. Samia, Geórgia e irmãos.
Seu Brahim.......realmente uma pessoa muito agradável, em especial na sua casa que nos deixava tão à vontade que parecia nossa.
Conversamos algumas vezes, na casa dele e fora de lá. Relembro que na casa dele fomos almoçar os quitutes árabes feitos com tanto carinho pela D. Samia....e que quitutes....saimos de lá empapuçados.
Sei que é um momento de tristeza; dói muito, mas temos que ter a certeza e confiar no SENHOR.
Com toda a certeza, como o padre bem falou ontem, Seu Brahim está ao lado do SENHOR olhando por todos nós.
Força amigo!
Nossas condolências (Fernando, Valéria e Antonio Aragão Neto)

Wady Miguel Nazar Safady Neto disse...


Conviver com o Sr. Brahim era tudo isso, principalmente vinha à tona a sua maior característica: o dom de preservar a alegria por onde passava. Ele sempre cultivava suas amizades, tanto que era amigo de meu pai, Michel Nazar, e sempre o visitava, preocupava-se com a sua saúde e sempre o lembrava que ele jamais deveria se esquecer que viver muito é uma dádiva. Sua amizade era acolhedora, alegre, constante e, sobretudo, verdadeira. E verdade é algo que falta há tantos, mas nossa família tem a certeza que sua existência foi baseada na verdade e na amizade. Tornar-se inesquecível é qualidade rara, mas foi isto que ele se tornou para todos os que tiveram a dádiva de conviver com ele. Saudades eternas...
Dos amigos Michel Nazar Safady, Wady Miguel Nazar Safady, Michelle Louzeiro Nazar e Conceição Louzeiro.