Moon river, por Zizi Possi, no carro, enquanto paro, ao fim da viagem. Voz suave, calma, indelével. Em paz. Entre cansado, saudoso e quase triste, porque, antes, na Cohama, meus olhos alcançavam um vendedor de balões, na calçada da pizzaria, quando já abria o verde do sinal. A quem ele os venderia numa chuviscosa noite de sexta-feira rente ao carnaval? Daquela distância, percebi-o pobre, sem riso, quase idoso, balançando, suavemente, à esquerda, um cacho de balões multicoloridos.
Lancetou-me as lembranças infantis. Ah, não sei do tamanho e do brilho que eu nos olhos tinha, mas o balão era um presente mágico, pela cor e pela disposição de subir e sumir no céu. No largo, na quermesse, não via quem mais poder ostentasse, só o homem que enchia balões e os amarrava ao cilindro de gás, vendendo gracejos para atrair-nos, pimpolhos.
Mas devia ter parado e sacado minha arma fotográfica para enclausurá-lo e ressuscitá-lo ao fim deste século, quando muitas deixarão de ser crianças, porque não mais veremos vendedores de balões, assim, numa sexta-feira qualquer.
Moon river... Oh, dream maker, you heartbreaker... (Rio da lua... Oh, fabricante de sonhos, seu partidor de corações...)
2 comentários:
Muito bom. Não sei se conto, se é crônica, mas sei que isso é literatura.
Parabéns.Ítalo Gustavo.
É assim que se compartilha sonhos, na esperança de que os sonhos não acabem, a revelar a essência de um sentimento externado, uma filosofia de vida que encontra simplesmente num dia à toa. O fabricante de sonhos seja ele qual for, seja o poeta, seja o vendedor de balões... e ao poeta que revela essa fabrica de sonhos...
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