sábado, 12 de dezembro de 2009

Cena VI. Divórcio

Ele, noventa; ela, oitenta. Cinquenta e sete juntos, sem alzheimer ou congestão. O vô serelepe e a vó carola, de boa mesa, e onze filhos formados. Ele ainda faz compras sozinho, todo convencido, o tal. O medo é de uma queda, como morreu tia Augusta, aos 88, bem perto do Ateneu. Mulher fala, e mamãe, então, demais; tenho a quem puxar. Ele, agora, meio surdo, só colhe metade dessas implicâncias. “Tua mãe reclama de tudo”, ouço de um lado. “Teu pai não me dá atenção”, ouço do outro. Há uns dois meses, decidiu, “vou morar com você, minha filha, não aguento mais, quero divórcio”, e saímos. Logo, no feriado, ela telefonou, cheia de cuidados, “faça a sopa de abóbora que ele gosta, cuidado com o sereno; mas não vá dizer que eu liguei”. Ele percebeu minha voz baixa e indagou “Era ela?”. Dia seguinte, almoçamos juntos. Voltaram.

Um comentário:

Não sei quem disse...


E o Maranhão?...

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