segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ensaio

Da janela fitava a baía de Cumã escondendo suas águas nos manguezais da costa vimaranense, enquanto ouvia Jerusa considerar seu fantástico encontro nos labirintos do “Ensaio sobre a cegueira”, que depois tive o cuidado de ler e recomendar pois provocava a forma de se viver num mundo em que os olhos fossem demitidos de suas funções mas as almas não se desviassem de sua custódia sobre o bem ou sobre o mal. O prédio, que agora alojava o fórum, se mantinha imponente à beira do barranco ainda protegido pela mata nativa desde os tempos em que guardara os gemidos dos presos em suas grossas e suadas paredes de pedra. Dois casos iriam a julgamento na vizinha cidade de Central, para o conselho popular decidir entre a banalidade de viver ou a banalidade de ceifar a vida, porque condenação mesmo é para quem morre, que as simpatias e regalias somam para seu carrasco. Nesta sexta (18), Saramago retornou à cinza sem levar sua obra.

Um comentário:

Juarez Gomes Medeiros disse...

As palavras e homenagens são para os poucos. Belas palavras e bela homenagem.