sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cena II. Tudo

Um tênue sorriso que incomoda. A mulher de voz suave diz por favor e obrigado. É pobre de “marré deci” (je m'arrête ici). Suas mortes relata sem o prestígio dos queixumes, como se fossem ais sem dores. A mãe e três irmãos enfermos de mente, com apenas um suplemento previdenciário, e o pai ainda rapariga com o pouco ganho. Ali a sobrevivência não se faz em forma de batalha, mas de quase rendição. Mesmo assim, distribui teimoso sorriso tênue e voz que não se eleva. Parece, não lhe ensinaram a arte do desesperar-se, perdeu as aulas do amaldiçoar, nenhum esconjuro, sequer um pio. Nada. As vezes me indago se rumina rancorosas lágrimas secretas, mas Deus não a escolta como arco de vingança, sendo seu conforto. Ou de que forma ela nos incomodaria com um sorriso? Sim, a nós que temos quase tudo e ela quase nada. (Pausa) Ou seria o contrário?

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