terça-feira, 16 de novembro de 2010

Muros

À noite, uma brisa fria abandona os braços do mar e invade as ruas do Tambaú rumo à Lagoa, em busca de aconchego. Intercalando as inevitáveis construções verticais, diversas casas se destacam por um detalhe: muros baixos; ― em João Pessoa, o olhar do viajante não dispensa observá-los ―, um pouco acima da cintura ou quase à altura dos ombros ou da cabeça, por sobre os quais se divisa o jardim, o terraço, o interior da morada. Quem assim os fez não queria privar os olhos, da rua, dos transeuntes, do bulício. Ali, felizmente, ao que parece, a indústria de gente-com-medo-de-gente ainda não se impôs completa. Neste final de semana, a cidade recebeu quase oitocentos atletas para a nona edição nacional do torneio de futebol do Ministério Público. O Maranhão teve participação pífia. Pudera! Para impedi-la, muros de intolerância e humilhação foram erguidos sob a chancela do medo. Muros deveras altos. Para o mesmo fim, a soberba e a prepotência usurparam a capa do poder e se fundiram na alcova da vaidade, que nem os apelos do procurador-geral anfitrião puderam despertar. Ele, também, chuteira e suor, à saída do gramado, fez-se solidário com nosso infortúnio. Quiçá tenha sido a última participação dos maranhenses em torneios, pelo menos enquanto nossa potestade não resolver sua paixão pelo espelho. Cedo ou tarde, muros são derrubados. Um empurrãozinho.

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