domingo, 7 de março de 2010

Cola

Paira a certeza de que sua excelência, também, fraudou a entrada. Os sussurros elencavam-no entre os traquinas na assessoria da corte. Liminares precedidas de cártulas generosamente preenchidas eram sua especialidade. Negociava pela banca, claro. Quando ingressou no certame, fez logo despesa com a beca, pois os exames seriam simples questão de tempo e de cola. Sempre festivo, como se o segredo dos que peitara pudesse esperar o túmulo, não se ateve em apagar rastos. Agora, seus códigos eram um suporte necessário às audiências que desenvolvia no aconchego do gabinete na comarca. A surpresa do advogado guardou silêncio quando precisou folhear um deles e, em tinta de lápis, conferiu respostas de uma das provas do concurso, anotadas nas costas não impressas de algumas folhas de entremeio do vade-mécum penal. Sim, era mesmo verdade: fora aprovado com fraude. Um jato de sangue sentiu invadir a raiz dos cabelos, e tentou, em vão, não corar; montou disfarce pra sua excelência não perceber o achado, e devolveu o código, mas esperou o fim da audiência para engolir a indignação que gostaria de vomitar. Pois não tem uma dúvida.

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