terça-feira, 26 de maio de 2009

Vae mortuis!

Pietà - (recorte formatado)

A morte trabalha todos os dias. É sua faina incansável. Aliviando dores. Roubando alegrias. Testando dogmas. Já devolveu alguns dos nossos ao pó, outros à imortalidade. Restamos nós, por um tempo de segredo.

Apraz-lhe o trabalho nas intolerâncias políticas, econômicas, raciais, religiosas e suas guerras. Tem zelo especial pela pobreza, testando os limites da resistência e da indiferença humanas.

Não vislumbro, porém, dor maior que cause senão quando rouba das mães um filho amado, ainda mais de chofre, sob o hálito da violência.

Nessas horas, elas (as mães) violam o anonimato e rompendo seu everest de dores nos dão lições que prefeririam jamais dispor a custo tão elevado.

Entre os casos recentes, Christiane Yared, 49 anos, de Curitiba, não pôde sequer contemplar o filho morto. Gilmar Rafael Yared (26) foi dilacerado em acidente, que, também, vitimou Carlos Murilo de Almeida (20), dia 07/05, causado por Fernando Ribas Carli Filho (26), deputado estadual, que trafegava em alta velocidade, sob efeito de álcool, com carteira de habilitação suspensa, já tendo 23 multas por excesso de velocidade.

Domingo (24/05), mais de 1000 pessoas fizeram passeata “pela paz e contra a impunidade”, em Curitiba. Na Assembleia corre pedido de cassação do parlamentar. Em dolorosa entrevista, a mãe desabafa: “O que seria uma pena justa para alguém que mata seu filho?”.

A morte não pode ser punida, mas os que trabalham para ela não devem sobreviver impunes. Há um longo caminho, até que nossa sociedade expurgue a doutrina do "triste de quem morre" (vae mortuis)!

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