segunda-feira, 12 de abril de 2010

O que pensa o MP?

Do sítio da AMMA:

"O Conselho de Representantes da Associação dos Magistrados do Maranhão (AMMA), reunido nesta segunda-feira (12), deliberou por fazer uma consulta junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para saber se o mutirão processual criminal que está sendo conduzido pelo referido órgão, no Maranhão e em outros Estados, não fere o princípio constitucional do “Juiz Natural”, já que exclui deste trabalho a participação do magistrado que conduz o processo. A proposta foi apresentada na reunião pelos juízes Roberto de Paula e José Costa, aprovada por unanimidade pelos conselheiros.

A decisão do Conselho de Representantes sobre o mutirão criminal é resultado de um processo de ampla discussão no âmbito da Associação dos Magistrados. O problema foi suscitado pela primeira vez durante reunião anterior da mesma instância da entidade, realizada no dia 19 de fevereiro, e levado à discussão em reunião da Diretoria Executiva. Esta, por sua vez, reuniu-se com o coordenador do mutirão, juiz Marcelo Lobão, no dia 5 de março, ocasião em que expressou o descontentamento de vários associados e cobrou solução para as críticas apresentadas.

Ao aprovarem a proposta de consulta ao CNJ, os conselheiros deixaram claro que não se trata de uma posição da AMMA contra a realização do mutirão, mas sim, pela forma com que está sendo conduzido no Maranhão. Várias situações de constrangimentos sofridos por juízes de diferentes comarcas foram relatadas na reunião. “Nossa crítica é com relação ao modo como o mutirão está sendo operacionalizado, de certa forma autoritária”, explicou o juiz José Costa.

Coordenador da implantação da Vara de Execução Virtual de São Luís, o juiz Douglas Martins, presente à reunião do Conselho, fez a defesa do mutirão processual criminal, lembrando que a partir dele foi dada visibilidade à Justiça criminal em todo o país, haja vista que se trata de uma esfera em que tramitam, na sua maioria, processos contra pessoas de baixa renda. "O mutirão deu visibilidade à pobreza no país", disse.

Douglas explicou que a partir do mutirão o Brasil tomou conhecimento de casos escabrosos sobre desrespeito aos presos, citando como exemplo o estado da Paraíba, cujo mutirão coordenado por ele, por designação do CNJ, resultou na exoneração de diretores de presídios envolvidos em casos de tortura. Ele lembrou, também, que a partir do mutirão foi elaborado um projeto encaminhado pela AMMA ao Governo do Estado para a criação da Secretaria de Administração Penitenciária, pleito este do qual a associação certamente sairá vitoriosa.

Ao final da apreciação deste ponto da pauta de hoje,o presidente Gervásio Santos declarou que foi uma decisão democrática, muito bem pensada, avaliada e discutida em todas as instâncias da AMMA e que muito vai contribuir para uma tomada de posição do CNJ em nível nacional. Ao deliberar sobre o assunto, o Conselho também levou em consideração posicionamento anterior do próprio CNJ acerca da realização de mutirões processuais em que não se cogita o afastamento dos juízes titulares das varas beneficiadas, como se verificou no Maranhão.

Outro ponto discutido pelo Conselho de Representantes foi com relação à fixação de residência dos juízes nas Comarcas e a forma como este controle vem sendo feito pela Corregedoria Geral de Justiça. Foi decidido que a AMMA se manterá firme na mesma postura que vem mantendo de ser contra a generalização, levando em consideração que a esmagadora maioria dos magistrados é cumpridora do seu dever. Durante a reunião foram apresentadas propostas acerca do assunto, mas foi decidido que serão levadas para uma instância maior, no caso a assembléia geral, para deliberação."

Um comentário:

Samaroni de Sousa Maia disse...


Caro Juarez,

O que o MP pensa (sobre o "Mutirão Carcerário"), na verdade, eu não sei, pois não nos reunimos para discutir questões dessa natureza, de órdem prática, atual e urgente. Vamos nos reunir para discutir algo que na verdade sequer se pretende adotar, como o "redimensionamento da estrutura e atuação do MP". (Estou esperando o discurso de 15 minutos da PGJ).

Eu penso que a forma como esse "mutirão" está sendo tocado é de uma ilegalidade gritante.

Princípio do juiz natural é o de menos. O importante é produzir estatística para, como disse o juiz do CNJ, Douglas, dar "visibilidade à pobreza do país". O processo se transformou em fato político, no pior aspecto.

Para isso, esse mutirão se transformou em órgão recursal de ofício, uma espécie de segunda instância singular, pois mesmo processos com andamento regular e com apreciação de pedido formulado pela defesa estão sendo decididos pelos "juízes do mutirão".

Após entrar em contato com a Corregedoria Geral do Ministério Público e obter a informação de que nada seria feito por aquele órgão, uma vez que a Corregedora-Geral e a Procuradora-Geral haviam se comprometido em colaborar com o CNJ no mutirão, passei a exercer minha independência funcional nos processos pedindo a revogação de diversas decisões (no plano técnico poderiam ser chamadas de atos inexistentes, pois praticados por órgão desprovido de jurisdição) e a comunicação dos atos dos respectivos juízes do mutirão ao CNJ e à CGJ do TJMA.

Já houve um caso em um processo que tramita no juízo em que oficio em que o "defensor do mutirão" requereu a progressão de regime, o "Promotor do mutirão" se manifestou favorável e o "juiz do mutirão" deferiu o livramento condicional (leia novamente: livramento condicional). Uma pérola! Boa para chamar a atenção do país.

O defensor público que atua aqui na Comarca anunciou ontem durante audiência que vai passar a formular pedidos de relaxamento de prisão por excesso de prazo provocado pelo mutirão. Mais uma boa causa para se chamar a atenção: o órgão administrativo que pretende conferir celeridade aos processos tem "os olhos maiores que a barriga" e termina por retardá-los.

É essa a minha opinião.
Vamos em frente.

Um abraço e parabéns pelos temas.

Samaroni de Sousa Maia
Promotor de Justiça de São José de Ribamar